«Quem permanece em Mim e Eu nele dá muito fruto»

Domingo V da Páscoa

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 15, 1-8)


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto. Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei. Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem. Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido. A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa…

«Uma alma em estado de graça é límpida como uma fonte cristalina da qual todos os regatos que dela brotam são límpidos. Deste modo, as suas obras são sumamente agradáveis aos olhos de Deus e dos homens porque procedem desta fonte de vida onde a alma, como uma árvore, ali se encontra plantada. A pujança e o fruto que tem, não os teria se dela não lhe viesse, porque a fonte a sustém, não a deixa secar e faz com que dê bons frutos.» (1Moradas 2, 2)

Meditação

O Evangelho de hoje convida-nos a refletir profundamente sobre a profunda metáfora da videira e dos ramos, uma metáfora que diz muito sobre a nossa relação com Deus e o nosso objetivo na vida. Jesus começa por dizer: “Eu sou a videira verdadeira, e o meu Pai é o viticultor”. Aqui, Jesus identifica-se como a fonte da vida, a verdadeira videira de onde brotam todo o alimento e crescimento. Ele enfatiza a ligação íntima entre ele e os seus discípulos, comparando-os a ramos que devem permanecer ligados à videira. Como ramos da videira, somos chamados a dar fruto. Mas o que é que esse fruto significa na nossa vida? Representa as virtudes e as qualidades que refletem a presença de Deus em nós: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Estes frutos não são apenas para nosso próprio benefício, mas destinam-se a ser partilhados com os outros, enriquecendo a vida dos que nos rodeiam e glorificando Deus. Mas Jesus também nos adverte que, sem ele, nada podemos fazer. Este facto realça a necessidade da nossa união com Cristo, pois é através desta união que encontramos a força e a vitalidade para dar fruto. Tal como um ramo não pode dar fruto por si só se não permanecer na videira, também nós somos impotentes sem Cristo. No entanto, permanecer em Cristo não é um ato passivo, mas exige a nossa participação ativa. Implica permanecer no seu amor, viver de acordo com os seus ensinamentos e alimentar a nossa relação com ele através da oração, das Escrituras e dos sacramentos. Implica entregar a nossa vontade à vontade de Deus, confiar na sua providência e permitir que a sua graça nos transforme a partir de dentro. Além disso, Jesus promete que aqueles que permanecem nele e dão fruto serão podados pelo Pai para que possam dar ainda mais fruto. A poda pode envolver a remoção daquilo que impede o nosso crescimento espiritual – sejam hábitos pecaminosos, apegos ou distrações – para que nos possamos tornar discípulos de Cristo mais frutíferos. O objetivo das nossas vidas é glorificar Deus, e isso só pode ser alcançado permanecendo em Cristo e dando frutos que perdurem. Por isso, acedamos ao convite de Jesus para permanecermos nele, confiando no seu amor e permitindo que a sua vida flua através de nós, para que possamos dar frutos abundantes para a glória de Deus e a salvação das almas. Que o Espírito Santo nos capacite a permanecer em Cristo cada dia mais plenamente, para que nos tornemos ramos frutíferos da videira verdadeira e testemunhas do poder transformador do amor de Deus no mundo. Amém.

Pe. José Arun, Ocd

Ícone Cristo, o Verdadeiro da Videira · Greek School

«O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas»

DOMINGO IV DA PÁSCOA

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 10, 11-18)


Naquele tempo, disse Jesus: «Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas, logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge, enquanto o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário não se preocupa com as ovelhas. Eu sou o Bom Pastor: conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai; Eu dou a vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor. Por isso o Pai Me ama: porque dou a minha vida, para poder retomá-la. Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente. Tenho o poder de a dar e de a retomar: foi este o mandamento que recebi de meu Pai».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa

«Entretanto, o grande Rei, que tem a Sua morada neste castelo, viu a  boa vontade deles e, pela Sua grande misericórdia, quer trazê-los de volta para Si. Então, qual bom pastor, com um silvo tão suave que até eles mal  o ouvem, dá-lhes a conhecer a sua voz, fazendo com que não andem tão  perdidos e voltem à sua morada. E este silvo do pastor é tão persuasivo que  eles largam as coisas exteriores que os desviavam e entram no castelo.» (4 Moradas 3,2)

Meditação

Todos sabemos como são populares as imagens de Jesus, o Bom Pastor. Nalgumas dessas imagens, vemos Jesus a segurar uma  ovelha sobre os ombros, segurando as duas patas da frente da ovelha na mão direita e as duas patas de trás na mão esquerda. Esta imagem e outras semelhantes atraem-nos pela ternura de Jesus, pelo seu cuidado com a ovelha e pela sua compaixão. Quando vemos esta imagem, a nossa mente começa naturalmente a vaguear e apercebemo-nos do seu significado pessoal para nós. Nós somos o cordeiro ou a ovelha que Jesus carrega aos ombros. Esta imagem é tranquilizadora para nós; Jesus é o nosso apoio na nossa viagem pela vida. Quando se nos deparam cruzes e problemas, ou quando ocorrem alguns desastres pessoais, esta imagem de Jesus Bom Pastor tranquiliza-nos, pois não estamos abandonados, Jesus apoia-nos e sustenta-nos. No Evangelho de hoje, Jesus proclama que é o Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas (João 10,11). Um mercenário, diz Jesus, não se preocupa com as suas ovelhas e abandona-as aos lobos, mas Jesus dá a vida pelas suas ovelhas (João 10,12-14). Faz isto porque em Mateus 9,36 e Marcos 6,34 lemos, o ver as multidões, o seu coração compadeceu-se delas, porque estavam perturbadas e abandonadas, como ovelhas sem pastor.

Hoje, ao reunirmo-nos neste abençoado Domingo para refletir sobre o Bom Pastor, somos chamados a contemplar o profundo amor e a orientação que o nosso Senhor oferece a cada um de nós. A imagem do Bom Pastor não é apenas uma metáfora  reconfortante; é uma verdade profunda que fala da própria essência da relação de Deus com o Seu povo. No Evangelho de João, Jesus proclama: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (João 10,11). Estas palavras ressoam profundamente com o amor sacrificial que Cristo demonstrou na cruz, dando a Sua vida para a salvação da humanidade. Como Bom Pastor, Jesus conhece intimamente cada uma das Suas ovelhas, chamando-as pelo nome e conduzindo-as com ternura e

compaixão. Hoje, ao refletirmos sobre o Bom Pastor, recordamos também a importância vital das vocações na Igreja. Neste domingo dedicado à oração pelas vocações, elevemos os nossos corações em oração, pedindo ao Senhor que envie operários para a sua vinha. Rezemos pela coragem e discernimento daqueles que estão a discernir um chamamento ao sacerdócio ou à vida religiosa, para que tenham a força de responder ao chamamento de Deus com generosidade e alegria. Rezemos também pelos nossos atuais sacerdotes, religiosos e religiosas e por todos aqueles que servem no ministério, para que sejam fortalecidos e sustentados pela graça de Deus na sua sagrada vocação. Que continuem a imitar o exemplo do Bom Pastor, conduzindo o Seu rebanho com humildade, compaixão e fé inabalável.

«Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia»

DOMINGO III DA PÁSCOA

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 24, 35-48)


Naquele tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão. Enquanto diziam isto, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Espantados e cheios de medo, julgavam ver um espírito. Disse-lhes Jesus: «Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?». Deram-Lhe uma posta de peixe assado, que Ele tomou e começou a comer diante deles. Depois disse-lhes: «Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: ‘Tem de se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’». Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de todas estas coisas».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa

«…permaneçamos pois muito  longe de tudo o que brilha, amemos a nossa pequenez, amemos o nada sentir, seremos então pobres de espírito e Jesus virá [vº] procurar-nos,  por muito longe que estejamos Ele transformar-nos-á em chamas de  amor… Oh! como eu queria fazer-vos compreender o que sinto!… Só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor…» (Carta 197)

Meditação

A passagem do Evangelho de hoje, de Lucas 24,35-48, leva-nos a um momento crucial no rescaldo da ressurreição de Jesus. Os discípulos estão reunidos, ainda a debater-se com a profunda realidade do regresso do seu Mestre de entre os mortos. No meio da sua descrença e confusão, Jesus aparece no meio deles, oferecendo não só garantias, mas também um profundo apelo à missão e ao objetivo. Ao reflectirmos sobre esta passagem no contexto da nossa vida quotidiana e da Semana das Vocações, lembramo-nos de vários temas-chave que ressoam profundamente com o nosso próprio caminho de fé e discernimento. Em primeiro lugar, consideremos a reação inicial dos discípulos à aparição de Jesus. Ficaram assustados e com medo, pensando que estavam a ver um fantasma. Quantas vezes também nós reagimos com medo e ceticismo quando somos confrontados com o inesperado ou o milagroso nas nossas vidas? A ressurreição desafia as nossas noções preconcebidas e chama-nos a transcender as nossas dúvidas, abrindo-nos ao poder transformador do amor de Deus. Em segundo lugar, Jesus responde à incredulidade dos discípulos com um convite simples mas profundo: “Olhai para as minhas mãos e para os meus pés. Sou eu mesmo! Tocai-me e vede”. No nosso próprio caminho de discernimento, somos chamados a encontrar Cristo no meio das nossas dúvidas e incertezas, a procurar a sua presença nas realidades tangíveis da nossa vida quotidiana. Como os discípulos, somos convidados a tocar as feridas de Cristo, a testemunhar as marcas do seu amor e sacrifício no mundo que nos rodeia. Em terceiro lugar, Jesus encarrega os seus discípulos de serem testemunhas da sua ressurreição, de proclamarem o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações. Este chamamento à missão não se limita a uns poucos seleccionados, mas estende-se a todos e a cada um de nós, independentemente da nossa vocação ou estado de vida. Quer sejamos chamados ao sacerdócio, à vida religiosa, ao matrimónio ou à vida de solteiro, todos somos chamados a ser embaixadores do amor e da misericórdia de Cristo no mundo. Finalmente, consideremos o profundo significado das palavras de Jesus: “Vós sois testemunhas destas coisas”. Como testemunhas da ressurreição, somos chamados a dar testemunho não só com as nossas palavras, mas também com as nossas vidas. As nossas acções, atitudes e escolhas devem refletir o poder transformador da ressurreição de Cristo, oferecendo esperança e cura a um mundo que necessita desesperadamente da misericórdia de Deus. Durante esta Semana das Vocações, escutemos o apelo de Cristo para discernirmos a nossa vocação única e para a abraçarmos com coragem e humildade. Quer sejamos chamados a servir como sacerdotes, religiosos, casais ou pessoas solteiras, esforcemo-nos sempre por ser testemunhas fiéis da ressurreição, partilhando a boa nova do amor de Deus com todos os que encontrarmos.

Pe. José Arun

«Oito dias depois, veio Jesus…»

DOMINGO II DA PÁSCOA ou da Divina Misericórdia

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

Com os santos do Carmelo…

Refere Santa Teresa…

«Oh poderoso amor de Deus! Para quem ama parece que nada há de impossível! Oh, ditosa a alma que chegou a alcançar do seu Deus esta paz! Ela encontra-se acima de todos os trabalhos e perigos do mundo e a nenhum teme por estar ao serviço de tão bom Esposo e Senhor.» (Conceitos do amor de Deus 3, 4).

Meditação

Caros irmãos e irmãs em Jesus Cristo,

Chegámos hoje ao segundo domingo de Páscoa ou ao que se tornou conhecido como o Domingo da Divina Misericórdia. Recordamos com alegria o ano jubilar da misericórdia, quando o Papa Francisco exortou toda a Igreja a descobrir de novo a mensagem e a força do amor misericordioso de Deus, que está à disposição de todos e é esperança para toda a humanidade. Nesse ano, o Papa recordou-nos que a mensagem da misericórdia divina é o próprio coração do Evangelho. Recordou-nos também o que é a Misericórdia Divina – o que acontece quando o amor de Deus se encontra com o pecado, a fraqueza, a rutura e o sofrimento humanos.

Na bela passagem do Evangelho de hoje, vemos o poder da misericórdia divina em ação e notamos os efeitos que ela tem sobre aqueles que a recebem. É a história dos discípulos juntos numa sala com medo. Imaginem como se sentiram: o homem e o líder em quem esperavam estava morto; tinham-no desiludido miseravelmente, como ele previra; receavam que os romanos e os judeus viessem agora também atrás deles. E então aconteceu algo extraordinário. Jesus aparece-lhes. Está vivo! Ficam estupefactos e espantados. Jesus não recorda o passado nem confronta os discípulos com os seus fracassos. Por três vezes, oferece-lhes o dom da sua paz: “A paz esteja convosco! Não admira que estejam cheios de alegria.

Jesus não está preocupado com o facto de ter sido injustiçado. Preocupa-se com eles, com os que escolheu, com os que amou e continuou a amar. Ele viu que a maior necessidade deles era a paz, uma paz que era muito mais profunda do que sentir-se melhor, mas uma paz que era fruto do perdão, da cura e da restauração da esperança e da fé.

Veja-se o exemplo de Tomé. Quando Jesus voltou a aparecer aos discípulos, a sua misericórdia foi ao encontro da falta de fé de Tomé. Repara que a misericórdia de Jesus não o repreende nem o repreende por a sua fé não ser a que devia ser. Nada disso. Em vez disso, a misericórdia divina de Jesus abre espaço para as dúvidas de Tomé e encontra-as respeitosamente. Por causa deste encontro, as dúvidas de Tomé são reconhecidas, mas transformadas numa bela afirmação de fé: “Meu Senhor e meu Deus!”

Que esperança para nós está contida nesta história? A misericórdia de Deus não ignora as nossas dúvidas, o nosso passado ou as nossas falhas, mas quer curá-las e perdoá-las. A misericórdia de Deus não se limita a perdoar-nos, mas quer também mudar-nos. Tal como a misericórdia de Deus abre espaço para as nossas imperfeições, também a nossa experiência de misericórdia abre espaço para os outros, dilatando os nossos corações na caridade como resposta ao dom gratuito do amor misericordioso de Deus. Repara como a experiência da misericórdia divina dos discípulos no Evangelho de hoje é igual à da primeira leitura, em que a comunidade da Igreja primitiva abraçou a misericórdia social, preocupando-se com “todos os membros que pudessem estar em necessidade”. O facto de recebermos misericórdia torna-nos mais misericordiosos. Somos chamados a mostrar misericórdia porque a misericórdia nos é mostrada, uma e outra vez.

E assim, nesta bela festa da Divina Misericórdia, agradecemos com admiração a experiência da misericórdia de Deus, mostrada e oferecida através de Jesus e soprada sobre nós através do Espírito Santo. É uma misericórdia que abre espaço para nós e nos desafia a abrir espaço para os outros. Nas palavras finais do Papa Francisco: “A misericórdia coloca-nos no contexto de um discernimento pastoral cheio de amor misericordioso, sempre pronto a compreender, perdoar, acompanhar, esperar e, sobretudo, integrar. É esta a mentalidade que deve prevalecer na Igreja e levar-nos a abrir o nosso coração aos que vivem nas periferias da sociedade” (A Alegria do Amor, 312).

Louvado seja nosso senhor jesus cristo.

P. Tomás Muzhuthett