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«Esta pobre viúva deu mais do que todos os outros»

DOMINGO XXXII DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (12,38-44)


Naquele tempo, Jesus ensinava a multidão, dizendo: «Acautelai-vos dos escribas, que gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças, de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas, com pretexto de fazerem longas rezas. Estes receberão uma sentença mais severa». Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa. Muitos ricos deitavam quantias avultadas. Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante. Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».

Com os santos do Carmelo

Refere São João da Cruz

«Uma obra feita às escondidas e sem querer que se saiba, por pequena
que seja, agrada mais a Deus do que mil feitas com vontade de
que os homens as vejam. Quem faz as coisas por Deus no amor mais
puro, pouco se importa que os homens as vejam, pois nem as faz para
que o próprio Deus as conheça. E ainda que Ele nunca as viesse a conhecer,
não deixaria de Lhe prestar os mesmos serviços com a mesma
alegria e pureza de amor.» (Ditos de luz e amor 20)

Meditação

No Evangelho de hoje, de São Marcos 12,38-44, Jesus fala aos seus discípulos em duas cenas poderosas que parecem distintas, mas estão profundamente ligadas. Primeiro, alerta para o orgulho dos escribas e para o facto de procurarem atenção, honra e riqueza material em vez de humildade e devoção a Deus. Depois, chama a atenção para uma viúva pobre que põe duas pequenas moedas no tesouro do templo – tudo o que tinha para viver. Através do seu ato humilde, Jesus dá-nos uma lição profunda sobre a verdadeira doação.
Os escribas, exteriormente religiosos, concentram-se nas aparências e nas recompensas, mostrando que a sua dádiva não é realmente para Deus ou para os outros; é para eles próprios. A viúva, no entanto, aproxima-se sem qualquer fanfarra. A sua oferta é pequena
em valor, mas aos olhos de Deus não tem preço, porque vem do seu coração e da sua confiança.
Nesta leitura, Jesus não está a condenar a riqueza, mas sim o coração que está por detrás da dádiva. Convida-nos a refletir sobre como e porque damos. Será que o nosso dar é, por vezes, uma tentativa de obter reconhecimento, conforto ou controlo? Ou será que damos por amor genuíno a Deus e ao próximo, confiando plenamente n’Ele?
Jesus considera a pequena oferta da viúva como o verdadeiro modelo de doação, porque ela deu “da sua pobreza”. O seu ato foi sacrificial e resultou de uma profunda confiança no cuidado de Deus para com ela. Ela desafia-nos com uma pergunta: Estaremos nós dispostos a dar de nós próprios e do que temos desta forma?
Dar, no sentido bíblico, não se trata apenas de dinheiro. Tem a ver com tempo, energia, compaixão, perdão – todo o nosso ser. Isto levanta uma questão para cada um de nós: Será que damos alguma coisa que nos custe verdadeiramente alguma coisa?
A oferta da viúva é um lembrete de que, perante Deus, o valor de uma oferta não reside no seu valor, mas no espírito que lhe está associado. Isto não quer dizer que todos devam dar tudo, mas sim que a nossa dádiva deve vir de um lugar de confiança em Deus, um lugar que O coloca a Ele e aos outros acima de nós próprios. É aqui que encontramos a verdadeira paz, alegria e significado.
Ao longo desta semana, peçamos a graça de dar como a viúva – sem procurar elogios ou recompensas, mas num espírito de amor, confiança e humildade,
dando com todo o nosso coração, tal como Deus tão generosamente nos deu. Amém.

Pe. José Arun

«Amarás o Senhor teu Deus. Amarás o teu próximo»

DOMINGO XXXI DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos


Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?». Jesus respondeu: «O primeiro é este: ‘Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças’. O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não há nenhum mandamento maior que estes». Disse-Lhe o escriba: «Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além d’Ele. Amá-l’O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios». Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a interrogá-l’O.

Com os santos do Carmelo

Diz Isabel da Trindade

«Jesus, tu que és tão humilde de coração, molda o meu para que seja a tua morada predileta, para que venhas repousar nele e aí converses comigo em união ideal. Que o meu pobre coração seja um só com o vosso divino coração e, para isso, quebre, arranque, consuma tudo o que vos desagrada.» (Diário espiritual 119)

Meditação

No Evangelho de hoje, Jesus destila os mandamentos em dois princípios fundamentais: o amor a Deus e o amor ao próximo, sublinhando uma mensagem que reverbera em todos os Evangelhos – que a verdadeira adoração é profundamente relacional e está enraizada no amor.
Jesus não se fica pelo amor a Deus. Acrescenta: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Ao fazê-lo, Jesus liga o amor a Deus e o amor ao próximo de forma inseparável. Não podemos afirmar que amamos Deus se não amarmos os outros, porque cada pessoa é feita à imagem de Deus. Isto é radical porque, na altura, a devoção religiosa era frequentemente vista como uma esfera separada das relações sociais. No entanto, Jesus mostra-nos que as duas estão interligadas; amar a Deus exige que
cuidemos dos outros com compaixão, misericórdia e respeito.
Este duplo mandamento desafia-nos a reexaminar a forma como amamos. O amor a Deus, embora profundamente pessoal, não pode ser mantido privado ou exclusivo. Ele transborda naturalmente, espalhando-se pelas nossas relações, pelo mundo que nos rodeia. Se os nossos corações estão alinhados com Deus, o amor ao próximo torna-se uma extensão natural desse amor divino que está dentro de nós.
O escriba responde a Jesus com compreensão, dizendo: “Isto é muito mais importante do que todos os holocaustos e sacrifícios”. A sua resposta é notável; ele compreende que o amor de Deus e o amor do próximo são maiores do que o ritual, mais essenciais do que a tradição.
Jesus afirma-o então com as palavras: “Não estás longe do Reino de Deus”.
Esta visão convida-nos a refletir sobre a forma como abordamos a nossa própria fé. A verdadeira adoração que agrada a Deus não se encontra em gestos vazios ou rotinas, mas em corações que procuram amar, perdoar e servir.
Ao meditarmos neste Evangelho, podemos perguntar-nos: “O que significa para mim amar a Deus com todo o meu coração, alma, mente e força?” Isso pode significar reservar um tempo diário para a oração, para ouvir a orientação de Deus, para estudar as Escrituras ou para cultivar um espírito de gratidão.
Da mesma forma, “O que é que significa amar o meu próximo como a mim mesmo?” Talvez signifique demonstrar paciência em relacionamentos difíceis, perdoar alguém que nos magoou ou
estender a mão a alguém em necessidade. Cada pequeno ato de bondade, cada momento de paciência ou de perdão, torna-se uma oferta a Deus. É este o tipo de adoração a que Jesus nos convida – uma adoração expressa através do amor em ação.
Que possamos levar estas palavras a peito, pedindo a Deus que nos ajude a viver este mandamento todos os dias, para que as nossas vidas dêem testemunho de um amor que vem d’Ele e nos leva de volta a Ele.

Pe. José Arun

«O Filho do homem veio para dar a vida pela redenção de todos»

DOMINGO XXIX DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 10, 35-45)


Naquele tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Mestre, nós queremos que nos faças o que Te vamos pedir». Jesus respondeu-lhes: «Que quereis que vos faça?». Eles responderam: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda». Disse-lhes Jesus: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu vou beber e receber o batismo com que Eu vou ser batizado?». Eles responderam-Lhe: «Podemos». Então Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu vou beber e sereis batizados com o batismo com que Eu vou ser batizado. Mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não Me pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem está reservado». Os outros dez, ouvindo isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os que são considerados como chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós: quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos; porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa…

«No entanto, tende presente que a abelha não deixa de sair e voar para sugar as flores. Creiam-me que assim deve fazer a alma no conhecimento próprio: de vez em quando deve voar para apreciar a grandeza e a majestade do seu Deus. Acreditem que, com a força de Deus, praticaremos muito melhor a virtude do que continuarmos tão presas ao nosso barro… A meu ver, nunca chegaremos a conhecer-nos se não procurarmos conhecer a Deus. Contemplando a Sua grandeza, acudiremos à nossa pequenez; vendo a Sua pureza, veremos a nossa sujidade; considerando a Sua humildade, reconheceremos quão longe estamos de ser humildes.» (1M 2 8-9)

Meditação da Palavra

O Dia Mundial das Missões recorda-nos que a Igreja é fundamentalmente missionária. O mandato de Jesus de “ir e fazer discípulos de todas as nações” chama cada um de nós a partilhar a Boa Nova. Podemos não ser todos chamados a terras distantes, mas somos todos chamados a testemunhar o amor de Cristo onde quer que estejamos. A corrida de corta-mato de 2012 em Madrid ficou famosa por um extraordinário ato de desportivismo que envolveu o atleta queniano Abel Mutai e o atleta espanhol Iván Fernández. Na reta final da corrida, Mutai liderava e estava a poucos metros da vitória quando, por engano, parou, pensando que já tinha cruzado a linha de chegada. Ao ver o que tinha acontecido, Fernández, que estava em segundo lugar, poderia facilmente ter aproveitado a vantagem e conquistado a vitória. No entanto, em vez de passar Mutai, preferiu guiá-lo até à meta, permitindo que o queniano garantisse a vitória que tinha merecido. Quando lhe perguntaram por que razão o fez, Fernández explicou que Mutai era o vencedor por direito e não merecia aproveitar-se do seu erro. Ele disse: “Quero ganhar, mas não só para mim; os que correm comigo também têm de ganhar, e esse é o meu grande sonho: ajudar os outros a ganhar e a chegar ao primeiro lugar”.

No Evangelho de hoje, João e Tiago perguntam abertamente a Jesus se podem sentar-se à sua direita e à sua esquerda quando Ele se sentar no trono. Fazem esta pergunta à frente dos outros dez discípulos, que ficam zangados. Porquê? Porque também eles tinham o mesmo desejo. É nesse momento que Jesus lhes diz: “Se queres ser o primeiro, tens de ser o servo dos outros. Tens de ajudar os outros”. Só quero fazer-vos algumas perguntas. Recentemente, houve o anúncio dos Prémios Nobel. Sabem quem ganhou o Prémio Nobel da Literatura? Quem ganhou na área da ciência? Quem ganhou o Prémio Nobel da Paz? Alguns de nós podem não se lembrar. Algumas pessoas podem lembrar-se destes pormenores, enquanto outras não. Não é necessário ou obrigatório que todos se lembrem de todos os vencedores. Quando lemos sobre eles nas notícias, lembramo-nos durante algum tempo, mas, de resto, não nos lembramos, porque não estamos diretamente ligados a eles. Agora, deixem-me fazer algumas perguntas diferentes: Lembram-se do nome do vosso melhor professor? Lembram-se dos vossos melhores amigos? Lembram-se do nome da pessoa que vos ajudou? Lembram-se deles porque fizeram a diferença na vossa vida. Tornaram-se parte do seu coração. Nas nossas vidas, não nos lembramos apenas daqueles que venceram; lembramo-nos daqueles que nos ajudaram a ter sucesso. O Dia da Missão é um lembrete de que todos nós somos chamados a sair das nossas zonas de conforto e a servir os outros. É um dia para vivermos o mandamento de amar o próximo como a nós mesmos. Quando ajudamos os outros, reflectimos o amor e a compaixão de Deus, tornando-nos instrumentos da Sua graça no mundo. Cada ato de bondade – grande ou pequeno – tem o poder de fazer a diferença. Pode ser oferecer um ouvido atento, dar uma mão ou partilhar recursos. Estes actos não só abençoam aqueles que ajudamos, como também transformam os nossos próprios corações, aproximando-nos de Deus. Deixemos que o Dia da Missão nos inspire a olhar à nossa volta e ver onde podemos levar esperança e alegria. É um lembrete de que a nossa fé não é apenas sobre palavras, mas sobre ação, mostrando o amor de Deus de formas tangíveis. Sirvamos com generosidade, sabendo que, quando ajudamos os outros, estamos a servir o próprio Cristo.

Imagem:  Fonte: http://migre.me/rMEtb

«Deixais o mandamento de Deus para vos prenderdes à tradição dos homens»

DOMINGO XXII DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos


Naquele tempo, reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém. Viram que alguns dos discípulos de Jesus comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. – Na verdade, os fariseus e os judeus em geral não comem sem ter lavado cuidadosamente as mãos, conforme a tradição dos antigos. Ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se terem lavado. E seguem muitos outros costumes a que se prenderam por tradição, como lavar os copos, os jarros e as vasilhas de cobre –. Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: «Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos antigos, e comem sem lavar as mãos?». Jesus respondeu-lhes: «Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’. Vós deixais de lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens». Depois, Jesus chamou de novo a Si a multidão e começou a dizer-lhe: «Escutai-Me e procurai compreender. Não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro. O que sai do homem é que o torna impuro; porque do interior do homem é que saem as más intenções: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos estes vícios saem do interior do homem e são eles que o tornam impuro».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa

«A partir daí, tudo o que não vejo guiado para o serviço de Deus parece-me ser grande vaidade e mentira» (V 40, 2). «Olhemos para as nossas faltas e deixemos as dos outros. Já sabemos que é muito próprio de pessoas tão compostas escandalizarem-se por tudo e por nada. E, porventura, no essencial até poderíamos aprender com quem mais nos escandaliza.» (3M 2,13) «Oh, que grande engano! Que o Senhor, pela Sua misericórdia, nos dê luz para não cairmos em semelhantes trevas.» (5M 4, 6).

Meditação

A estreiteza de espírito dos fariseus pode ser a nossa. Se surgem em nós questões insidiosas, cujo objetivo é controlar a vida dos outros, então a nossa oração precisa de uma conversão profunda. A comunhão com Deus é uma coisa fascinante; vai muito para além das tradições e das tentativas de controlar a vida dos outros e de julgar os outros com superioridade. Quando a oração não conhece o caminho do coração, fica apenas nos lábios e não chega ao coração de Deus. A verdadeira oração nasce de um coração aberto a Deus e aos outros. O Espírito chama-nos a uma conversão profunda a Jesus Cristo, o verdadeiro Amigo, nosso único Mestre e Senhor, e ao seu Reino. (CIPE)

Imagem retirada de: https://diocesedecrato.org/homilia-do-22o-domingo-do-tempo-comum-ano-b/

«A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida»

DOMINGO XX DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é minha carne, que Eu darei pela vida do mundo». Os judeus discutiam entre si: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?». E Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia. A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como o dos vossos pais, que o comeram e morreram: quem comer deste pão viverá eternamente».

Com os Santos do Carmelo

Refere Santa Teresa

«Oh meu Deus e minha Sabedoria infinita, sem medida e sem limites, acima de todos os entendimentos angélicos e humanos! Oh Amor, que me amas mais do que eu me posso amar a mim! Não entendo!» (Exclamações XVII, 1);

«Com que caminhos, com que maneiras e com que modos nos mostrais o Vosso amor!… E, além disto, dizeis (…) palavras que tocam tão profundamente a alma que Vos ama.» (Conceitos do amor a Deus 3, 14)

Meditação

Jesus Cristo nos convida a algo muito especial: a comer a Sua carne e a beber o Seu sangue. Como será isso, perguntam alguns. Algo de humano se transformou em comida celestial; um fenómeno que se transforma em sacramento; um milagre manifestado à humanidade; o alimento que perdura para sempre; a doçura de Deus que toca nos nossos corpos mortais; o alimento eterno que transforma a criatura; o eterno que dá vida eterna ao mortal. Este é o fim da história: Deus fez-se homem para que o homem se faça como Deus. Jesus alimenta-nos com o seu corpo e nos dá vida, nos salva e nos diviniza. Contudo, este alimento não poderá ser adquirido de qualquer maneira, é necessário que haja uma comunhão de amizade e de compreensão dos seus caminhos. Este alimento é de graça, mas não é de simples compreensão. É necessário fazer uma caminho de fé, de abertura do coração a Deus. Quando de facto, nos aproximamos deste alimento de coração simples e humilde, se abrem as portas do céu e se derrama as graças celestiais. Este alimento é distribuído no sacramento da Eucaristia. De facto, é o maior milagre que temos entre nós, aí Deus se manifesta ao mundo pelo Seu Filho, aí se abrem as portas da misericórdia, aí se sana todo o mal e se cura toda a enfermidade, o verdadeiro alimento que nos sacia e nos conforta nos caminhos da vida. Comei e bebei, saboreai como é bom o Senhor. Só quem prova deste alimento poderá dizer algo sobre ele, pois ninguém pode amar aquilo que não se conhece.

«Eu sou o pão vivo que desceu do Céu»

DOMINGO XIX DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 6, 41-51)


Naquele tempo, os judeus murmuravam de Jesus, por Ele ter dito: «Eu sou o pão que desceu do Céu». E diziam: «Não é Ele Jesus, o filho de José? Não conhecemos o seu pai e a sua mãe? Como é que Ele diz agora: ‘Eu desci do Céu’?». Jesus respondeu-lhes: «Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia. Está escrito no livro dos Profetas: ‘Serão todos instruídos por Deus’. Todo aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino vem a Mim. Não porque alguém tenha visto o Pai; só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa…

«Quem quiser que se preocupe em pedir esse pão. Quanto a nós, peçamos ao Pai Eterno que mereçamos receber o nosso Pão celeste de modo que, embora os olhos do corpo não possam deleitar-se a vê-Lo por estar encoberto, se revele aos da alma e se lhes dê a conhecer. Este é um alimento que traz consolação e júbilo, e sustenta a vida…». (Caminho de perfeição 34, 5)

Meditação da Palavra

A Palavra de Deus deste Domingo, convida-nos a olhar para Jesus Cristo, o Pão descido do Céu que veio dar vida ao mundo. Ora, para acreditar que assim é somos convidados a participar na sua mesa para que junto d´Ele possamos receber esse alimento. Mas, quem chama é o Pai, ninguém vai a Jesus Cristo se não for chamado pelo Pai. Deus atrai as pessoas pelo seu amor, não obriga ninguém a seguir esse caminho. O nosso Deus não atrai as pessoas por proselitismo ou doutrinamento, mas por misericórdia. Deus atrai perdoando sempre, aquele que se aproxima dele de coração sincero. Nós somos cristão por atração. O nosso Deus é bom, humilde, inesgotável, alimenta-nos sempre com o seu Pão. Três vezes aparece o verbo comer neste Evangelho. Um verbo simples, quotidiano, vital, que significa muitas coisas, mas a primeira é esta: comer ou não é questão de vida ou morte. Viver, portanto. A segunda coisa: viver mediante a comunhão com aquilo que comes. Viver de Deus. Este viver de Deus, pode ser alimentado com o que recebemos na missa. A Eucaristia, a sua Palavra, o seu perdão, embora não seja suficiente. Porque, de seguida implica que se viva uma vida de fidelidade, pois a nossa vida de cristão não se reduz ao rito da missa, mas implica uma comunhão contínua. São Paulo diz muito bem: «Nele existimos, nos movemos, e respiramos» (cf. At 17, 28). «Quer dizer respirar o seu ar límpido e fresco, quer dizer movermo-nos neste mar de amor que nos envolve e nos nutre, quer dizer respirar o seu alento, sonhar os seus sonhos, alimentarmo-nos das suas palavras. Caso contrário, somos crentes ao Domingo e ateus durante o resto da semana.». É preciso ter esta pergunta quotidianamente: de que é que nos alimentamos? Daquilo que nos dá vida, ou morte? De coisas boas ou más? Procuremos viver a vida à luz do Evangelho que cria em nós bons pensamentos e nos conduz à bondade e beleza da vida. «Se nos alimentarmos de Cristo e de Evangelho, Ele habita-nos e transforma-nos, moldando a nossa forma de pensar, de sentir e amar». Ele prometeu que eu serei uma só carne com Ele. Se prometeu, então acredito, confio, não vou murmurar.

Imagem retirada de: https://www.catequesedobrasil.org.br/noticia/corpus-christi-eu-sou-o-pao-descido-do-ceu–07062023-135947

«Distribuiu-os e comeram quanto quiseram»

DOMINGO XVII DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Naquele tempo, Jesus partiu para o outro lado do mar da Galileia, ou de Tiberíades. Seguia-O numerosa multidão, por ver os milagres que Ele realizava nos doentes. Jesus subiu a um monte e sentou-Se aí com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Erguendo os olhos e vendo que uma grande multidão vinha ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?». Dizia isto para o experimentar, pois Ele bem sabia o que ia fazer. Respondeu-Lhe Filipe: «Duzentos denários de pão não chegam para dar um bocadinho a cada um». Disse-Lhe um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?». Jesus respondeu: «Mandai-os sentar». Havia muita erva naquele lugar e os homens sentaram-se em número de uns cinco mil. Então, Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, fazendo o mesmo com os peixes; e comeram quanto quiseram. Quando ficaram saciados, Jesus disse aos discípulos: «Recolhei os bocados que sobraram, para que nada se perca». Recolheram-nos e encheram doze cestos com os bocados dos cinco pães de cevada que sobraram aos que tinham comido. Quando viram o milagre que Jesus fizera, aqueles homens começaram a dizer: «Este é, na verdade, o Profeta que estava para vir ao mundo». Mas Jesus, sabendo que viriam buscá-l’O para O fazerem rei, retirou-Se novamente, sozinho, para o monte.

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa…

«…sempre que se pense em Cristo, lembremo-nos do amor com que nos concedeu tantas graças; e quão grande no-lo mostrou Deus ao dar-nos semelhante prova do que nos tem. Amor gera amor. E ainda que seja muito nos começos e nos vejamos tão ruins, procuremos ter sempre isto em conta a fim de nos despertar a amar.» (Vida 22, 14).

Meditar a Palavra

Ao entrarmos no Evangelho de São João encontramos uma grande carga simbólica, em que, sem retirar a sua factualidade, existe uma mensagem profunda, que entra no nosso ser, no nosso interior, na nossa vida. O texto fala-nos de milagres, de uma subida ao monte, duma distribuição. É de facto verdade que Cristo foi um taumaturgo. O seu objetivo era aumentar a fé daqueles que viam os seus milagres, nunca com intenção de se exibir. Podemos olhar para os tempos de hoje, em que se vê muitas pessoas à procura de milagres, de fenómenos estranhos e de mensagens apocalíticas com intenção de saber o fim. Quem anda sempre a procura de novidades, ávidos de tudo, nunca encontra verdadeiramente a paz, não repousa no monte certo para ouvir a voz do mestre, sempre viverá sobressaltado. Cristo é o mestre, no seu Evangelho está tudo o que necessitamos, Ele é a Palavra, a Verdade, o Caminho, a Vida. Jesus vive dentro de nós mesmos, que procuras fora, quando a verdadeira riqueza está dentro de ti? No Evangelho de João não temos a palavra multiplicação, mas distribuição. Dizia um autor que o Cristão não é chamado a dar pão ao mundo, mas fermento. Por isso, somos chamados a distribuir pelo mundo fermento de esperança, de amor, de paz. Somos chamados a ser generosos, partilhar com os que nada tem, seja algo material ou espiritual. Muitos necessitam dos cristãos para levar alegria, consolo, luz, verdade, sejamos esses distribuidores em abundância daquilo que brota de uma relação saudável com o Mestre que nos ensina a distribuir tudo o que temos pelo bem do próximo. Por fim, se olharmos para este Evangelho também encontramos a simbologia da Eucaristia. Encontramos três verbos: tomou os pães, deu graças e distribui. Três verbos que recordam imediatamente a Eucaristia, Cristo Pão, o Mestre que, enquanto sacia em nós a fome de pão, quer acender a fome de Deus. Procuremos com este Evangelho recordar a nossa condição de discípulos, permanecendo sempre humildes, recordando a generosidade para com o próximo e a relação profunda com Jesus através da Eucaristia para que não percamos a luz da fé.

«Começou a enviá-los»

Domingo XV Tempo Comum

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos


Naquele tempo, Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem calçados com sandálias, e não levassem duas túnicas. Disse-lhes também: «Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles». Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento, expulsaram muitos demónios, ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos.

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa:

«Nestas fundações não conto os sofrimentos das jornadas: o frio, o sol, a neve, que em certas ocasiões não cessava o dia inteiro. Ora nos perdíamos nos caminhos, ora sobrevinham muitos achaques e febres, porque, Deus seja louvado, habitualmente tenho pouca saúde. Contudo, via claramente que Nosso Senhor me dava forças; porque acontecia, por vezes, ao tratar-se de fundação, achar-me com tantos males e dores que me afligia muito, por me parecer, mesmo na cela, não podia estar senão deitada. Então voltava-me para Nosso Senhor queixando-me a Sua Divina Majestade e perguntava-Lhe como queria que fizesse o que não podia, ainda que com trabalho. Sua Majestade dava-me forças e com o fervor que me incutia, e o cuidado que eu trazia, dir-se-ia que me esquecia de mim mesma.» (Fundações 18, 4)

Meditação

Neste evangelho, vemos o início de uma missão dos apóstolos e esta missão é uma missão que é um puro dom do senhor. E para mais, Ele escolhe quem quer e como quer, só Ele conhece os nossos corações, só Ele sabe quem está disposto a entregar-se totalmente a esta missão. Só Jesus sabe quem tem a capacidade de acolher a sua Mensagem e vivê-la ou, pelo menos, de não desistir de caminhar com a proposta que é dada.

O senhor envia-nos com um objetivo: anunciar a mensagem da salvação que vem dele. O apóstolo não é aquele que se anuncia a si mesmo, mas anuncia alguém e esse alguém é Jesus Cristo. Outra coisa é também a força que os apóstolos devem ter ou pelo menos a quem se devem apoiar, por que nada podem fazer sozinhos a sua força é Cristo, não podem estar apoiados a seguranças humanas, mas somente no dom do senhor. Outra coisa interessante é que partem os discípulos dois a dois e não um a um. Porque, estando só, o homem é levado a duvidar até si próprio. Ninguém se salva sozinho. O próprio Deus é um Deus de comunidade e ensina-nos a viver não para nós mesmos, mas em comunidade, entregando-nos totalmente por amor ao nosso irmão. Ninguém chega à meta sozinho, mas sempre dois a dois. O amor pelo irmão faz-nos caminhar sempre para a meta.

Quando Jesus diz para pregarem o arrependimento está a dizer para que todos voltem à luz. Porque a luz já está aqui, está próximo e também ao mesmo tempo diz para que as suas mãos sejam impostas aos doentes isso significa que Deus está perto, Deus está aqui e cura a vida. Os apóstolos se não viverem para si mesmos, tem um poder que vem de Deus. Por isso é que o senhor diz aos apóstolos que não precisam de levar seja o que for, alforje, pão, dinheiro, os bens, tudo o que seja um estorvo para o anúncio da salvação é deixá-lo de lado. Tudo o que não serve pesa, já dizia Madre Teresa de calcutá. É um convite a confiar na sua providência e abrir os corações à graça de Deus. Somos instrumentos nas Suas mãos e só precisamos de estar em sintonia com Ele, caminhando lado a lado como irmãos.

«Satanás está perdido»

DOMINGO X DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos


Naquele tempo, Jesus chegou a casa com os seus discípulos. E de novo acorreu tanta gente, que eles nem sequer podiam comer. Ao saberem disto, os parentes de Jesus puseram-se a caminho para O deter, pois diziam: «Está fora de Si». Os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam: «Está possesso de Belzebu», e ainda: «É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios». Mas Jesus chamou-os e começou a falar-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode aguentar-se. E se uma casa estiver dividida contra si mesma, essa casa não pode durar. Portanto, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não pode subsistir: está perdido. Ninguém pode entrar em casa de um homem forte e roubar-lhe os bens, sem primeiro o amarrar: só então poderá saquear a casa. Em verdade vos digo: Tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e blasfémias que tiverem proferido; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: será réu de pecado para sempre». Referia-Se aos que diziam: «Está possesso dum espírito impuro». Entretanto, chegaram sua Mãe e seus irmãos, que, ficando fora, O mandaram chamar. A multidão estava sentada em volta d’Ele, quando Lhe disseram: «Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura». Mas Jesus respondeu-lhes: «Quem é minha Mãe e meus irmãos?». E, olhando para aqueles que estavam à sua volta, disse: «Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».

Meditação

No Evangelho de hoje, de S. Marcos 3,20-35, encontramos Jesus num período de intenso ministério. As multidões pressionam-no, a sua família tenta intervir e os escribas acusam-no de estar possuído por Belzebu. Esta passagem apresenta uma mensagem poderosa sobre a natureza da missão de Jesus, a oposição que Ele enfrenta e o verdadeiro significado de pertencer à família de Deus. A família de Jesus, ao saber da situação, vem levá-l’O, dizendo: “Ele está fora de si”. Esta reação reflete uma experiência humana comum: por vezes, as pessoas mais próximas de nós não compreendem a nossa vocação ou as nossas ações quando seguimos a vontade de Deus. Jesus enfrenta a incompreensão não só das multidões, mas também da sua própria família. Isto pode ser uma fonte de grande sofrimento pessoal, mas Jesus permanece firme. Jesus fala do pecado imperdoável – a blasfémia contra o Espírito Santo. Este pecado é muitas vezes entendido como a rejeição persistente e voluntária da graça de Deus e a atribuição das boas obras de Deus ao mal. É uma advertência contra a dureza de coração que se recusa a aceitar a graça de Deus. É um aviso contra a dureza de coração que se recusa a reconhecer a obra evidente do Espírito. Para nós, é um apelo a permanecermos abertos e receptivos à ação de Deus nas nossas vidas e no mundo. Nesta passagem, Jesus redefine o conceito de família. Quando lhe dizem que a sua mãe e os seus irmãos estão lá fora à sua procura, ele olha para os que estão sentados em círculo à sua volta e diz: “Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos! Quem fizer a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Esta declaração é revolucionária. Jesus não está a descartar a Sua família biológica, mas sim a expandir a noção de família para incluir todos os que fazem a vontade de Deus. Isto significa que os nossos laços em Cristo transcendem as relações naturais. A Igreja, a comunidade dos crentes, é uma família unida pelo nosso compromisso comum de seguir a vontade de Deus. Esta passagem desafia-nos a refletir sobre vários aspectos importantes da nossa caminhada de fé: Será que estamos a dar prioridade à nossa missão espiritual e às necessidades dos outros, como fez Jesus? Como é que vivemos a nossa pertença à família de Deus? Peçamos a graça de permanecermos fiéis à nossa vocação, mesmo perante a incompreensão e a oposição. Esforcemo-nos por reconhecer e cooperar com o Espírito Santo em todas as coisas e abraçar a nossa verdadeira família – a comunidade de crentes unidos para fazer a vontade de Deus. Desta forma, podemos ser instrumentos do Reino de Deus, trazendo cura, unidade e paz a um mundo necessitado. Amém.

Pe. José Arun, Ocd

«O Filho do homem é também Senhor do sábado»

DOMINGO IX DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos


Passava Jesus através das searas, num dia de sábado, e os discípulos, enquanto caminhavam, começaram a apanhar espigas. Disseram-Lhe então os fariseus: «Vê como eles fazem ao sábado o que não é permitido». Respondeu-lhes Jesus: «Nunca lestes o que fez David, quando ele e os seus companheiros tiveram necessidade e sentiram fome? Entrou na casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu dos pães da proposição, que só os sacerdotes podiam comer, e os deu também aos companheiros». E acrescentou: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso, o Filho do homem é também Senhor do sábado». Jesus entrou de novo na sinagoga, onde estava um homem com uma das mãos atrofiada. Os fariseus observavam Jesus, para verem se Ele ia curá-lo ao sábado e poderem assim acusá-l’O. Jesus disse ao homem que tinha a mão atrofiada: «Levanta-te e vem aqui para o meio». Depois perguntou-lhes: «Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?». Mas eles ficaram calados. Então, olhando-os com indignação e entristecido com a dureza dos seus corações, disse ao homem: «Estende a mão». Ele estendeu-a e a mão ficou curada. Os fariseus, porém, logo que saíram dali, reuniram-se com os herodianos para deliberarem como haviam de acabar com Ele.

Com os santos do Carmelo

Refere São João da Cruz

«Ao comungar, só se preocupam em receber algum sentimento e gosto em vez de, com humildade, adorar e louvar a Deus no seu íntimo. E afeiçoam-se de tal maneira a isto, que, se não tiverem algum gosto ou sentimento sensível, julgam que não lhes valeu de nada. É uma forma muito baixa de julgar a Deus, pois não sabem que o menor proveito deste Santíssimo Sacramento é o que diz respeito aos sentidos, enquanto que o maior é o da graça invisível.» (Noite Escura 1, 6)

Meditação

Caros irmãos e irmãs em Cristo

A Bíblia descreve a adoração perfeita. Ela ocorre em torno do trono de Deus. É um lugar onde não há dor, nem tristeza; um lugar onde não é preciso sol nem lua porque Deus está lá para fornecer luz e calor; um lugar onde o caos e tudo o que perturba é substituído pela paz perfeita. É um lugar onde não há distinção entre pessoas, nações e línguas. Todos são iguais perante o Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro, o seu Salvador.

Mas ainda não estamos perto do Trono de Deus. Estamos aqui neste mundo onde a adoração para nós às vezes se torna problemática. Muitas vezes, acreditamos que a adoração é sobre coisas que acreditamos que precisamos fazer para agradar a Deus. Por vezes, pensamos que a adoração tem a ver com o facto de estarmos à altura. Por vezes, pensamos que a adoração é vir à igreja ao domingo com a nossa melhor roupa. Às vezes pensamos que adoração é cantar as coisas certas usando as melodias certas para ganhar o favor de Deus. E no seu devido contexto, cada uma destas coisas pode certamente fazer parte do que é a adoração que honra a Deus. Mas a adoração é muito mais do que isso.

Hoje vamos começar a tratar da questão do culto. Tratamos de questões importantes como: O que é a adoração? Qual é o aspeto da verdadeira adoração? Como podemos adorar Deus de uma forma verdadeira e autêntica? Comecemos por ver o que podemos aprender com a lição do Evangelho de hoje.

Era um dia de sábado – o equivalente à nossa manhã de domingo – o dia de descanso. Os discípulos de Jesus estavam envolvidos numa atividade que não era permitida pelas regras e regulamentos religiosos da época. Apanhavam cereais porque tinham fome. Ora, havia pessoas que eram vistas como os executores das leis religiosas. Entre eles estavam os fariseus, os escribas e os que governavam o templo. Eles criticaram Jesus por causa do que os discípulos estavam a fazer.

É que, para estes líderes religiosos, o culto tinha-se tornado numa série de coisas a fazer e a não fazer. O sábado era um dia em que certas actividades eram permitidas e outras não. Agradar a Deus tinha sido reduzido a uma fórmula. Deus ficará feliz se você não andar mais do que 30 passos, mas ficará descontente se você andar 31. Deus honrará a sua adoração se der o seu dízimo, mas ficará zangado se tudo o que trouxer for o óbolo da viúva. Honrar a Deus tinha sido reduzido a regras e regulamentos.

Mas este tipo de adoração tinha sido rejeitado por Deus ao longo dos séculos. Muitos anos antes, o profeta Isaías tinha dito ao povo: “O Senhor diz: ”Este povo aproxima-se de mim com a sua boca e honra-me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. O seu culto a mim é feito apenas de regras ensinadas por homens”. (Isaías 29.13) Como vê, é uma tolice imaginar que podemos criar as regras e os requisitos para uma adoração que honra Deus.

Quando a adoração se torna uma questão de regras e leis que têm de ser obedecidas, é fácil desviar os olhos de Deus – Aquele a quem estamos a prestar culto. O foco muda para o que estamos a fazer e como o estamos a fazer e se os que nos rodeiam o estão a fazer bem. Quando isto acontece, perdemos o barco e o objetivo da adoração.

Bem, qual é o contraste com este tipo de adoração? Penso que começa por compreender quem é Deus e quem somos nós em comparação com Ele. Sabemos que o nosso Deus é omnipotente e omnisciente. Ele é o Criador e através da Sua Palavra tudo veio a existir. Ele não precisa de nada de nós e, no entanto, a criação depende inteiramente d’Ele. Ao considerar estas qualidades eternas de Deus, não se torna claro que a adoração não tem a ver com o que fazemos para Deus? A adoração tem a ver com o que Deus faz por nós. Por isso, sejamos mais fiéis à nossa adoração e peçamos a Deus que nos dê força para vivermos a nossa vida de fé como Deus deseja.

Louvado seja nosso senhor jesus cristo.

P. Tomás Muzhuthett