Do caminho doloroso à gloria celeste

DOMINGO II DA QUARESMA

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos


Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias». Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». De repente, olhando em redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho com eles. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos. Eles guardaram a recomendação, mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos.

COM OS SANTOS DO CARMELO

Refere Santa Isabel da Trindade…

«Pergunta-me, talvez, como o glorificar? É muito simples. Nosso Senhor dá-nos o segredo, quando nos diz: «O meu alimento é o de fazer a vontade d’Aquele que me enviou.» Ligue-se, pois, querida Senhora, às vontades deste Mestre adorável, encare cada sofrimento, assim como cada alegria, como provindo diretamente d’Ele e, então, a sua vida será como uma contínua comunhão, porque cada coisa se constituirá como um sacramento que lhe há de dar Deus».

Meditação…

Um escalador quando pensa subir uma montanha, prepara-se devidamente com o equipamento necessário, para que tudo corra da melhor maneira possível. Ao começar a escalada, depara-se com desafios e obstáculos e procura o melhor trajeto para não tropeçar nas armadilhas. Na medida que vai subindo, as pernas se vão tornando mais pesadas e o cansaço começa a acumular. Mas, ao recordar o seu objetivo lhe dá renovadas forças, revigora-se a esperança ao saber que o cume é possível alcançar. Quando chega ao cume, todo o seu cansaço é esquecido por um momento, porque desfruta da sua vitória e rejubila com aquilo que encontra. No cume podemos ter as melhores vistas, o sol radiante, a proximidade das nuvens. O monte é por si só o lugar onde pousa o primeiro raio de sol e onde se detém longamente o último.

Se olharmos para a nossa vida podemos dizer que é semelhante a um escalador. O caminho para o cume da santidade é desafiante e cheio de obstáculos. Para alcançarmos esse cume necessitamos de nos revestir com o equipamento necessário das virtudes e da Palavra de Deus, para que no caminho possamos superar toda a espécie de dificuldades que encontramos. Por mais que o caminho seja doloroso, e dependentemente da montanha que cada um suba, no cume de todas elas está reservado a maior beleza que o homem pode encontrar: a luz resplandecente e luminosa do amor de Deus. Aquela luz que brilha no coração do homem e que o deixa completamente inebriado. Sendo assim, podemos dizer, que bom é estar com este bom Deus. Aquele a quem o Pai diz: «Este é o meu Filho muito amado, escutai-O». Quando alcançarmos o objetivo, a meta que Deus nos propõe, todas as dores e dificuldades que tivemos desaparecem e são esquecidas, o cansaço transforma-se em vitalidade, a tristeza em alegria, a dor em felicidade, a morte em ressurreição.

Fr. David, Ocd

No deserto da vida Deus está…

DOMINGO I DA QUARESMA

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 12-15)

Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Isabel da Trindade

«É aí, no mais profundo, que se operará o choque divino, que o abismo do nosso nada, da nossa miséria, se encontrará frente a frente com o Abismo da misericórdia, da imensidade do tudo de Deus. É aí que havemos de encontrar a força de morrermos para nós mesmos e que, ao perder o nosso próprio rasto, seremos transformados em amor…» (O Céu na Terra. Primeiro dia, 4)

Meditação…

A Quaresma é um tempo de maior encontro com Deus. Neste primeiro Domingo somos convidados a entrar mais adentro de nós mesmos. O deserto é um lugar de encontro mais profundo com Deus, mas, também, serve para quebrar com muitas correntes diabólicas. Foi no deserto que o povo hebreu venceu as perseguições do faraó e foi no deserto alimentado por Deus. Da mesma maneira Jesus, o novo Moisés, foi tentado e perseguido pelo inimigo, ao vencê-lo foi alimentado. O deserto é um lugar não desejado por muitos, mas muitos vivem em autênticos desertos, secos como terra árida sem qualquer gota de sentido da vida. O caminho da vida por vezes é árido e cheio de inimigos, mas é nas situações mais difíceis da vida que Deus se encontra e desafia-nos sempre a colocar os olhos n´Ele. Isto parece fácil, mas é aí que entra o Espírito Santo de Deus que nos impele a sair de nós mesmos e a irmos ao encontro de quem nos sacia a fome de infinito e nos alimenta com o maná no deserto das nossas vidas. Procuremos entender que é dentro de nós mesmos que habita Deus, é aí onde se realiza o encontro divino. Quem vive sem esta realidade cristã, vive no vazio e se vive no vazio vive num sem sentido, o nada não é a última coisa que se encontra no fim da vida, mas o abismo da misericórdia de Deus que no fundo da alma clama «estou aqui».

Fr. David, Ocd


Imagem:

Pintura flamenga

A tentação de Cristo · Joos or Josse de Momper
Private Collection / bridgemanimages.com

«O amor de Deus é a saúde da alma.»

DOMINGO VI DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 40-45)


Naquele tempo, veio ter com Jesus um leproso. Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo. Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho». Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade. Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte.

Com os Santos do Carmelo…

Refere São João da Cruz…

«A razão é a seguinte: O amor de Deus é a saúde da alma. Quando não tem um perfeito amor, também não tem uma saúde perfeita; por isso, está doente. A doença não é outra coisa senão a falta de saúde; assim, quando não tem nenhum grau de amor, está morta. No entanto quando tem algum grau de amor de Deus, por mínimo que seja, já está viva, embora muito debilitada e doente por ser pouco o amor. Mas, à medida que o amor for aumentando, mais saúde terá; e quando chegar ao perfeito amor, perfeita será a sua saúde.» (CB 11, 11).

Meditação…

As atitudes que se aprendem com este Evangelho é o de aproximar-se de Jesus com confiança e com um coração humilde pedir-lhe o que mais necessitamos. Jesus veio para nos libertar de tudo aquilo que nos prende e que não nos deixa viver. Com Ele ninguém fica excluído, todos são chamados, todos tem o direito a receber o seu amor. Quando Deus toca, algo se transforma na nossa vida. Os ossos ressequidos se erguem do túmulo, a carne restabelece as suas formas originais, tudo se rejuvenesce com a palavra compadecida «Quero, fica limpo». Como é a nossa relação com este Deus que só deseja o nosso bem? Como é o nosso olhar para com o nosso semelhante? Jesus ensina-nos a olhar com compaixão a muitos que no mundo são marginalizados. Procuremos nesta Quaresma que se aproxima ter um coração misericordioso, confiante e humilde, não só para pedir por nós, mas por aqueles que ninguém se lembra, que ninguém reza, que ninguém olha.

Frei David, Ocd

«Comeram e ficaram saciados»

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MARCOS 8,1-10 (10-02-24)

Naqueles dias, juntou-se novamente uma grande multidão e, como não tinham que comer, Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Tenho pena desta multidão; há já três dias que estão comigo e não têm que comer. Se os despedir sem alimento para suas casas, desfalecerão no caminho, porque alguns vieram de longe». Responderam-Lhe os discípulos: «Como se poderia saciá-los de pão, aqui num deserto?». Mas Jesus perguntou: «Quantos pães tendes?». Eles responderam: «Temos sete». Então, Jesus ordenou à multidão que se sentasse no chão. Depois, tomou os sete pães e, dando graças, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que os distribuíssem, e eles distribuíram-nos à multidão. Tinham também alguns pequenos peixes. Jesus pronunciou sobre eles a bênção e disse que os distribuíssem também. Comeram e ficaram saciados. Dos bocados que sobraram, encheram sete cestos. Eram cerca de quatro mil pessoas. Então Jesus despediu-os e, subindo para o barco com os discípulos, dirigiu-se para a região de Dalmanutá.

Meditação da palavra

Caros irmãos e irmãs em Jesus Cristo,

Que tipo de Deus é Jesus? É um Deus de compaixão e de misericórdia. Jesus sente a nossa solidão quando nos sentimos sós. Jesus chora connosco quando nós choramos. Jesus sente o fardo pesado que carregamos quando estamos tão sobrecarregados por ele. Será que este sentimento de compaixão e misericórdia se fica pela empatia de Jesus? Não, Jesus nunca pára de pensar em formas de aliviar os fardos que carregamos.

Vemos esta profunda compaixão e misericórdia de Jesus no evangelho de hoje. Quando Jesus viu a multidão que os seguia há dias, teve uma profunda compaixão por eles, pois já tinham fome. A sua misericórdia e compaixão levaram-no a pensar na forma de os alimentar.

Então, Jesus pediu aos discípulos qualquer alimento que tivessem e, de sete pães e poucos peixes, Jesus multiplicou-os milagrosamente para alimentar quase quatro mil pessoas. É assim que Jesus é misericordioso e compassivo para com aqueles que o seguem.

No Evangelho de hoje, Jesus volta a recordar-nos que nunca passaremos fome quando decidirmos seguir fielmente Jesus! Jesus nunca nos deixará passar fome, porque Ele cuidará da nossa alimentação e das nossas necessidades. Isto pode ser difícil de acreditar para outros, mas é bem verdade! Jesus providencia para aqueles que o seguem fielmente. Na leitura do Evangelho, os discípulos vêem-se confrontados com uma situação que lhes parece impossível. Há uma grande multidão de pessoas famintas num lugar deserto, sem meios para as alimentar. O seu desespero transparece na pergunta que fazem a Jesus: “Onde é que alguém pode arranjar pão para alimentar esta gente num lugar deserto como este? Há alturas na vida de todos nós em que nos sentimos como os discípulos. Deparamo-nos com uma situação que parece estar para além das nossas capacidades. Perguntamo-nos como é que nos vamos desenrascar. Na leitura do Evangelho, os discípulos descobrem que o Senhor lhes permitiu lidar com a situação e alimentar a multidão. Trabalhando com muito poucos recursos humanos, sete pães e alguns peixes pequenos, Jesus permitiu que os discípulos alimentassem a multidão. Por vezes, também nas nossas vidas, o Senhor permite-nos fazer algo que não seríamos capazes de fazer se estivéssemos entregues aos nossos próprios recursos. O Senhor pode atuar poderosamente através dos poucos recursos que temos à nossa disposição, se lhos oferecermos e o convidarmos a utilizá-los. São Paulo sabia-o por experiência própria. Escreveu na sua carta aos Filipenses: “Tudo posso naquele que me dá força”. Ámen.

P. Tomás Muzhuthett

«Faz que os surdos ouçam e que os mudos falem»

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MARCOS 7,31-37 (09-02-24)

Naquele tempo, Jesus deixou de novo a região de Tiro e, passando por Sidónia, veio para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar e suplicaram-Lhe que impusesse as mãos sobre ele. Jesus, afastando-Se com ele da multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva tocou-lhe a língua. Depois, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse-lhe: «Effathá», que quer dizer «Abre-te». Imediatamente se abriram os ouvidos do homem, soltou-se-lhe a prisão da língua e começou a falar corretamente. Jesus recomendou que não contassem nada a ninguém. Mas, quanto mais lho recomendava, tanto mais intensamente eles o apregoavam. Cheios de assombro, diziam: «Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem».

Meditação da palavra

Caros irmãos e irmãs em Jesus Cristo

Imaginemos que somos o surdo desta passagem e estamos completamente isolados do mundo dos sons. Não podemos ouvir o som das vozes dos nossos entes queridos; não podemos ouvir o riso das crianças, o vento nas árvores, a água a correr, os pássaros a chamar, a música ou o canto. É uma adaptação difícil para qualquer um de nós.

A surdez pode ser uma experiência isoladora. Uma coisa é perder o olfato ou o paladar, mas perder a audição coloca muitos desafios na vida.

A certa altura, estávamos todos afastados de Deus, separados dele pelos nossos pecados. E éramos tão incapazes de mudar a nossa condição como o homem surdo e mudo da passagem de hoje. Mas se és um crente, de alguma forma Deus chegou até ti, tal como Jesus chegou até ao homem surdo. Tinhas um coração de pedra e os teus ouvidos eram surdos às coisas espirituais, mas Jesus falou ao teu coração: “Abre-te!” e o teu coração abriu-se a Deus. Foi um milagre! Achas que curar o surdo foi um milagre espantoso? Não é nada comparado com o milagre da salvação.

Talvez já seja crente há algum tempo, mas tem escorregado na sua caminhada com Deus. Já não fala com ele como dantes. Não o ouve como dantes. Esta manhã, Jesus diz-lhe: “Abra-se!” Abre os teus ouvidos à maravilhosa verdade da palavra de Deus, mais uma vez. Abre a tua boca! Confessa o teu pecado a Deus e deixa que os teus lábios falem em louvor dele. Diz em voz alta para o mundo inteiro ouvir: “Eu creio que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, que morreu e ressuscitou!” Confesse com os seus lábios que Jesus é o Senhor.

Deus chama-o a fazer alguma coisa, talvez a dar um passo em frente na fé ou a confiar nele de novas formas? Então ouça Cristo dizer-lhe: “Abre-te!” Esteja aberto para que Deus trabalhe na sua vida; esteja aberto para que o Espírito de Deus trabalhe em si; esteja aberto para a vontade de Deus, seja ela qual for.

Esta é a nossa palavra para hoje. Abre-te a Deus. Estejam abertos a Jesus. Ele é o Cristo. Ele é o Messias. Ele fez bem todas as coisas e fará bem todas as coisas. E quando Cristo conduz a vossa vida, não importa quão pedregoso seja o caminho que percorrem, o fim é sempre bom. Tudo irá bem e todas as coisas irão bem, porque Cristo é Deus e Cristo é bom. “Abre-te!” Esteja aberto a Deus e ao seu incrível amor por si.  Ámen.

P. Tomás Muzhuthett

«Os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas das crianças»

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MARCOS 7,24-30 (08-02-24)

Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se para a região de Tiro e Sidónia. Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse. Mas não pôde passar despercebido, pois logo uma mulher, cuja filha tinha um espírito impuro, ao ouvir falar dele, veio prostrar-se a seus pés. A mulher era pagã, siro-fenícia de nascimento, e pediu-Lhe que expulsasse o demónio de sua filha. Mas Jesus respondeu-lhe: «Deixa primeiro que os filhos estejam saciados, pois não está certo tirar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos». Ela, porém, disse: «Senhor, também é verdade que os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas das crianças». Então Jesus respondeu-lhe: «Dizes muito bem. Podes voltar para casa, porque o demónio já saiu da tua filha». Ela voltou para casa e encontrou a criança deitada na cama. O demónio tinha saído.

Meditação da Palavra

Caros irmãos e irmãs em Jesus Cristo,

É importante lembrarmo-nos de dois princípios sobre os nossos sentimentos. Primeiro, não devemos tratá-los como se fossem a bússola infalível da nossa vida espiritual. Segundo, a sua falta de apoio não significa que Nosso Senhor nos esteja a abandonar. Podemos facilmente esquecer estes dois princípios e seguir cegamente os nossos sentimentos, persuasões e seduções. Podemos confundir erradamente sentimentos com fé. Esta mulher crente do Evangelho de hoje mostra muito bem a atitude que devemos manter. O seu exemplo de humildade perante a repreensão aparentemente hostil de Jesus deixa-nos verdadeiramente espantados. Sem rebelião, sem queixas, sem ressentimentos, sem festa de piedade. Ela mantém-se decididamente fixa em Cristo. Mantém um espírito de humildade e de fé naquele que tem o poder de libertar a sua filha do demónio. Sou capaz de persistir na minha oração, mesmo quando parece que Nosso Senhor se faz de surdo?

Jesus favorece um determinado grupo de pessoas? Não, Jesus não tem um grupo de favoritos. Jesus veio a este mundo não para salvar um determinado grupo de pessoas, mas cada um de nós: Pecadores, não pecadores, cristãos e não cristãos. No Evangelho, uma mulher grega, não judia e forasteira, foi ter com Jesus para pedir a cura da sua filha. O que é que Jesus fez? Testou a fé da mulher e, quando viu a sua grande fé, concedeu-lhe o pedido de cura para a filha.

O que é que isto nos diz sobre Jesus? Ele ama-nos, independentemente de quem somos e dos pecados que cometemos. O importante é irmos humildemente ter com Ele e estender-lhe a mão com fé. Se tivermos fé, nada é impossível para Ele. Jesus conceder-nos-á o que quisermos d’Ele, enquanto tivermos fé.

Quer que Jesus faça milagres na sua vida? Suplica-lhe humildemente e não te acanhes. Confie simplesmente n’Ele e abandone-se a Ele. No Seu tempo perfeito, Ele dar-lhe-á o que deseja.  Simplesmente acredita e tem fé. Amém.

P. Tomás Muzhuthett

Imagem retirada: https://combonianos.org.br/o-evangelho-da-cananeia/

«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram»

Cinco Chagas do Senhor – Festa

Evangelho segundo São João 19,28-37 (07-02-23)

Naquele tempo, sabendo que tudo estava consumado e para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: «Tenho sede». Estava ali um vaso cheio de vinagre. Prenderam a uma vara uma esponja embebida em vinagre e levaram-Lha à boca. Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou: «Tudo está consumado». E, inclinando a cabeça, expirou. Por ser a Preparação da Páscoa, e para que os corpos não ficassem na cruz durante o sábado – era um grande dia, aquele sábado –, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados vieram e quebraram as pernas ao primeiro, depois ao outro que tinha sido crucificado com Ele. Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu é que dá testemunho e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. Assim aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: «Nenhum osso Lhe será quebrado». Diz ainda outra passagem da Escritura: «Hão de olhar para Aquele que trespassaram»

Meditação da Palavra

Caros irmãos e irmãs em Jesus Cristo,

As chagas de Jesus são um escândalo, uma pedra de tropeço para a fé, mas são também a prova da fé. É por isso que, no corpo de Cristo ressuscitado, as chagas nunca passam: elas permanecem, pois são o sinal duradouro do amor de Deus por nós. São essenciais para acreditar em Deus. Não para acreditar que Deus existe, mas para acreditar que Deus é amor, misericórdia e fidelidade.

Quando celebramos hoje a festa das sagradas chagas de Jesus, Ele convida-nos a contemplar essas chagas, a tocá-las como Tomé, a curar a nossa falta de fé. Acima de tudo, convida-nos a entrar no mistério destas chagas, que é o mistério do seu amor misericordioso.

Através destas chagas, como numa abertura de luz, podemos ver todo o mistério de Cristo e de Deus: a sua paixão, a sua vida terrena, cheia de compaixão pelos fracos e pelos doentes, a sua encarnação no seio de Maria. E podemos reconstituir toda a história da salvação: as profecias – sobretudo sobre o Servo do Senhor -, os Salmos, a Lei e a Aliança; a libertação do Egipto, a primeira Páscoa e o sangue dos cordeiros imolados; e ainda, desde os patriarcas até Abraão, e depois até Abel, cujo sangue clamou da terra. Tudo isto podemos ver nas chagas de Jesus, crucificado e ressuscitado; com Maria, no seu Magnificat, podemos perceber que “a sua misericórdia se estende de geração em geração” (Lc 1,50).

Perante os acontecimentos trágicos da história da humanidade, podemos sentir-nos por vezes esmagados, perguntando-nos: “Porquê?” O mal da humanidade pode aparecer no mundo como um abismo, um grande vazio: vazio de amor, vazio de bondade, vazio de vida. E então perguntamo-nos: como podemos preencher este abismo? Para nós é impossível; só Deus pode preencher este vazio que o mal traz ao nosso coração e à história da humanidade. É Jesus, Deus feito homem, que morreu na cruz e que preenche o abismo do pecado com a profundidade da sua misericórdia.

Enquanto estamos nesta vida, o amor-perfeito está ligado ao lado doloroso do sacrifício que nos causa temor e tremor, como aconteceu com Cristo. Mas as chagas gloriosas de Cristo ressuscitado proclamam a vitória eterna da caridade divina, que é o princípio da felicidade eterna. Pela graça e pela caridade, não só veremos e gozaremos de Deus, mas tornar-nos-emos divinizados. Se somos divinizados, participamos da natureza divina, e se participamos da natureza divina, participamos também das próprias procissões das Pessoas Divinas.

O amor de Cristo pela Cruz é o caminho seguro para esta participação, para a participação na sua filiação, na sua oblação eterna ao Pai, de onde brota o Espírito de amor. O sinal do triunfo deste amor são as chagas gloriosas de Cristo. Ámen.

O amor de Cristo pela Cruz é o caminho seguro para esta participação, para a participação na sua filiação, na sua oblação eterna ao Pai, de onde brota o Espírito de amor. O sinal do triunfo deste amor são as chagas gloriosas de Cristo. Ámen.

P. Tomás Muzhuthett

«Deixais o mandamento de Deus para vos prenderdes à tradição dos homens»

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MARCOS 7,1-13 (06-02-24)

Naquele tempo, reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém. Viram que alguns dos discípulos de Jesus comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. Na verdade, os fariseus e os judeus em geral só comem depois de lavar cuidadosamente as mãos, conforme a tradição dos antigos. Ao voltarem da praça pública, não comem sem antes se terem lavado. E seguem muitos outros costumes a que se prenderam por tradição, como lavar os copos, os jarros e as vasilhas de cobre. Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: «Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos antigos, e comem sem lavar as mãos?». Jesus respondeu-lhes: «Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: “Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. É vão o culto que Me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos”. Vós deixais de lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens». Jesus acrescentou: «Sabeis muito bem desprezar o mandamento de Deus, para observar a vossa tradição. Porque Moisés disse: “Honra teu pai e tua mãe”; e ainda: “Quem amaldiçoar o seu pai ou a sua mãe deve morrer”. Mas vós dizeis que se alguém tiver bens para ajudar os seus pais necessitados, mas declarar esses bens como oferta sagrada, nesse caso fica dispensado de ajudar o pai ou a mãe. Deste modo anulais a palavra de Deus com a tradição que transmitis. E fazeis muitas coisas deste género».

Meditação da Palavra

S. Paulo Miki e os seus companheiros, viveram e morreram pela sua fé inabalável.

A preocupação dos fariseus com rituais e tradições exteriores é semelhante aos desafios que os cristãos enfrentam em todas as épocas. É fácil cair na armadilha de praticar atos religiosos sem uma verdadeira transformação do coração. S. Paulo Miki e os seus companheiros, martirizados em 1597 no Japão, são o exemplo de um profundo empenhamento em Cristo que transcende as práticas exteriores.

As suas vidas e o seu derradeiro sacrifício fazem eco das palavras de Jesus no Evangelho de hoje. Num mundo que muitas vezes valoriza as aparências em detrimento da autenticidade, somos convidados a examinar os nossos próprios corações. Estaremos nós, como os fariseus, concentrados em observâncias externas, ou estaremos a cultivar uma relação verdadeira e vibrante com Deus?

O Evangelho de S. Marcos encoraja-nos a abraçar uma espiritualidade que vai para além dos rituais, desafiando-nos a procurar uma profunda transformação interior. O que verdadeiramente importa não é o que entra no nosso corpo, mas o que emana do nosso coração. São Paulo Miki e os seus companheiros viveram esta verdade, escolhendo a fidelidade a Cristo mesmo perante a perseguição.

Ao refletirmos sobre o seu corajoso testemunho, perguntemo-nos: Como é que podemos aprofundar a nossa relação com Deus? Como é que a nossa fé pode ser mais do que uma mera observância exterior? Aprendamos com o exemplo dos mártires, permitindo que a sua coragem nos inspire a viver autenticamente, colocando Deus no centro das nossas vidas.

Em conclusão, que a memória de S. Paulo Miki e dos seus companheiros acenda em nós um desejo fervoroso de uma relação genuína e transformadora com Deus. Que o seu sacrifício seja um farol, guiando-nos para longe da religiosidade superficial e para uma fé que emana das profundezas dos nossos corações. Amém.

P. José Arun

«Jesus não se cansa de ensinar, curar e libertar»

DOMINGO V DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 29-39)


Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios.

Com os santos do Carmelo…

Refere São João da Cruz…

Buscando meus amores
Irei por esses montes e ribeiras,
Não colherei as flores,
Nem temerei as feras,
E passarei os fortes e as fronteiras.

A alma constata que, para encontrar o Amado, não bastam gemidos e orações, nem valer-se de bons medianeiros, como fez na primeira e na segunda canções. E, como o desejo com que O procura é verdadeiro e grande o seu amor, não quer deixar de realizar qualquer diligência que lhe seja possível, pois a alma que ama verdadeiramente a Deus não descansa sem fazer tudo quanto pode para encontrar o Filho de Deus, seu Amado. (Cb 3, 1)

Meditação

Caros irmãos e irmãs em Jesus Cristo,

Hoje a Santa Madre Igreja convida-nos a louvar Cristo, que continua a fazer o bem. Ele e os seus apóstolos cumpriram a sua missão como uma responsabilidade e não como um fardo ou apenas por um salário. Por isso, ele liberta-nos e chama-nos a servir os outros gratuitamente.

No Evangelho de hoje, Jesus não se cansa de ensinar, curar e libertar do poder das trevas as pessoas que dele se aproximam. Isto inclui a sogra de Pedro. Além disso, Jesus encarava o seu ministério como uma responsabilidade, e não principalmente como um ganha-pão. Por isso, acima de tudo, era apaixonado pelo povo e preocupava-se pelo seu bem-estar.

Tal como Jesus e Paulo, devemos encarar o nosso chamamento e a nossa missão como uma responsabilidade, e não como um fardo ou uma recompensa mundana monetária. Salário ou recompensa não se refere apenas a dinheiro ou coisas materiais. Procurar deliberadamente elogios para o nosso trabalho e missão é também uma forma de exigir salário. Se o fizermos, já recebemos o nosso salário. Assim, quando atraímos para nós uma atenção indevida pelo trabalho que fazemos, é também uma forma de receber um salário por aquilo que deveria ser apenas da nossa responsabilidade.

Paulo estava “espiritualmente doente” até ter encontrado Cristo de forma providencial. Este encontro transformou a sua vida e fortaleceu a sua fé. Por isso, dedica-se à pregação da Boa Nova. Este é o seu testemunho: “Por causa do evangelho, fiz-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo e ter parte na sua bênção.” Assim, mais do que um salário, Paulo encara o seu chamamento como uma responsabilidade pela salvação dos outros. Era um pregador itinerante a tempo inteiro, sempre sedento da conversão de almas para Cristo.

Jesus pregava, curava e libertava as pessoas de todo o tipo de enfermidades e problemas. Ninguém o encontrava com fé sem ser curado. Se Jesus tem de nos curar, também nós temos de ter fé nele. Além disso, se a boa nova nos liberta, temos de acreditar nela.

O poder de Jesus continua a ser o mesmo hoje. Ele está pronto para curar aqueles que vêm a ele com fé. Está pronto a ter um encontro que muda a vida daqueles que estão dispostos a aproximar-se dele com humildade. Por isso, “louvemos o Senhor que cura os nossos corações despedaçados”.

A Escritura de hoje desafia-nos a escutar e a partilhar. Devemos seguir Jesus não só nos momentos felizes, mas também nos momentos de solidão e até de maior tribulação. Como ele, procuremos formas de chegar com amor às pessoas que estão preocupadas, doentes ou deprimidas – para deixar que o Senhor nos use para abençoar essas situações de alguma forma. Então, quando ele nos chamar para si, ter-nos-á deixado ser os seus olhos, o seu sorriso, os seus ouvidos e as suas mãos, trabalhando silenciosamente no mundo. 

Concluo com as palavras do Papa Francisco, somos chamados “a imitar o estilo de proximidade, compaixão e ternura de Deus…, a estar perto dos que sofrem e a fazer o que for possível para os aliviar, ou pelo menos para os fazer saber que não estão sós”.          Amém.

P. Tomás Muzhuthett, Ocd

Imagem retirada de: https://oratoriosaoluiz.com.br/evangelho-do-dia-a-cura-da-sogra-de-simao-mc-129-39l/