Domingo I do Advento (Ano A)

Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo,

Iniciamos hoje um novo ano litúrgico. O Advento abre-nos novamente a porta da esperança, convidando-nos a erguer o olhar, a afinar o coração e a renovar o desejo de Deus. A Palavra que a Igreja nos propõe neste primeiro domingo é exigente, talvez até desconcertante, porque fala de vigilância, de surpresa e de um futuro que não dominamos. O evangelho de São Mateus leva-nos àquela palavra breve mas decisiva de Jesus: “Vigiai!”

Jesus recorda-nos os dias de Noé: “Como nos dias de Noé, assim será a vinda do Filho do Homem.” O que havia de particular nesses dias? Não era o facto de haver grande maldade ou algum acontecimento extraordinário. O Senhor diz algo mais simples e, por isso mesmo, mais inquietante: as pessoas viviam mergulhadas no quotidiano — comiam, bebiam, casavam… Tudo normal, tudo “como sempre”. E justamente aí está o problema. Viviam como se Deus não existisse, como se a história fosse apenas um ciclo natural de afazeres, conquistas e rotinas. Viviam distraídos, anestesiados pela normalidade.

O anúncio de Jesus não pretende provocar medo; pretende, isso sim, acordar-nos. O que destrói a vida espiritual, o que impede o encontro com Deus, não é tanto a maldade aberta, mas a indiferença, o adormecimento interior, aquela atitude que diz: “Ainda não é preciso mudar”, “um dia terei tempo”, “Deus espera”. Sim, Deus espera, mas a vida não. E a salvação acontece no hoje.

Jesus prossegue com duas pequenas parábolas: dois homens no campo – um será levado e outro deixado; duas mulheres a moer – uma será levada e outra deixada. À primeira vista, parecem palavras duras. Mas, na verdade, elas revelam algo muito importante: não é o lugar que ocupamos, não é a actividade que realizamos, nem é a aparência da nossa vida que nos salva. É o coração. É a relação viva com Deus. Dois homens fazem o mesmo trabalho; duas mulheres realizam a mesma tarefa. Mas o interior não é igual. O Advento convida-nos justamente a olhar para dentro, a perceber onde está o nosso coração.

E Jesus conclui: “Se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, vigiaria.” A imagem do ladrão é provocadora, mas é pedagógica. O Senhor não vem para roubar; vem para salvar. Porém, chega na hora que menos esperamos, para que não vivamos de cálculos, mas de amor. Quem ama não vigia por obrigação; vigia porque deseja, porque espera, porque o coração está aceso.

Irmãos e irmãs, este é o grande apelo do Advento:
Desperta! Recomeça! Reacende o desejo de Deus!

O Advento não é um tempo de ansiedade, mas de expectativa confiante. A sociedade à nossa volta já entrou na pressa do Natal comercial, mas a Igreja convida-nos a outra preparação, mais profunda e mais verdadeira. Não se trata apenas de preparar a celebração do nascimento de Jesus há dois mil anos; trata-se de abrir espaço para a vinda de Cristo agora — na nossa história, nas nossas famílias, nas nossas feridas, nos nossos sonhos. E trata-se, também, de orientar a vida para a vinda definitiva do Senhor no fim dos tempos.

Perguntemo-nos, então, com humildade:

Estou vigilante ou distraído?
O meu coração ainda espera algo de Deus?
A minha vida é conduzida pela fé ou apenas pelo ritmo dos dias?
Sou capaz de fazer silêncio, de rezar, de escutar, de me converter?

A vigilância cristã não é medo de perder algo; é o cuidado de não perder Alguém. Não é uma ansiedade nervosa, mas uma atenção amorosa. Quem está à espera de alguém que ama, prepara a casa, põe ordem na vida, reserva tempo, abre espaço.

Talvez este Advento seja para nós um convite a limpar aquilo que nos ocupa demasiado, a retirar o ruído que abafa a voz de Deus, a voltar a pequenos gestos que reacendem a fé: um momento diário de oração, uma leitura breve do Evangelho, um pedido de perdão, um acto de caridade escondida. A vigilância vive-se em gestos simples, mas verdadeiros.

Caríssimos irmãos, o Senhor está próximo.
O Advento recorda-nos que Deus nunca desiste de nós. Ele vem sempre, silenciosamente, inesperadamente, humildemente. E quer encontrar-nos de coração desperto, vigilante, desejoso.

Que Maria, Virgem da Expectação, nos ensine a viver este tempo com um coração aberto. Ela é a mulher vigilante por excelência — que escuta, que acolhe, que se deixa surpreender por Deus. Que ela nos acompanhe para que, no meio das rotinas da vida, saibamos reconhecer a visita do Senhor.

Assim seja.