Queridos irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje apresenta-nos Jesus diante do esplendor do Templo de Jerusalém. Muitos admiravam a beleza das pedras, a grandeza da construção, aquilo que os olhos humanos facilmente tomam como sinal de glória e segurança. Mas Jesus surpreende-os com palavras duras: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra…”.
Estas palavras não são uma ameaça; são um convite. Jesus está a dizer-nos que não coloquemos a nossa confiança naquilo que é exterior, passageiro, frágil, mesmo quando parece grandioso. Tudo o que é humano — estruturas, riquezas, prestígio, beleza — está sujeito a cair. Mas o que permanece para sempre é a fidelidade de Deus e a fidelidade do coração humano a esse Deus.
E é exatamente nesta lógica que se insere o Dia Mundial dos Pobres. Porque os pobres, os frágeis, os descartados da sociedade, são aqueles que nos obrigam a olhar para além das “pedras bonitas” do mundo. Eles recordam-nos o essencial: a dignidade humana não é medida pelo que alguém possui, mas pelo amor com que é amado e com que ama.
Jesus avisa os discípulos de dificuldades, conflitos, perseguições, e até de traições dentro da própria família. No entanto, repete uma promessa fundamental: “É pela vossa perseverança que salvareis as vossas vidas.” A perseverança não é teimosia humana; é a coragem de confiar em Deus quando tudo parece desmoronar.
Hoje, ao meditarmos o Evangelho, o Senhor pede-nos duas atitudes:
Vivemos num tempo que valoriza o sucesso, o dinheiro, o consumo, a imagem. Mas Jesus diz claramente: tudo isso passa. A grande pergunta é: onde está construída a nossa vida? Em Deus ou nas aparências?
A presença de tantos irmãos nossos que vivem na pobreza — material, espiritual, relacional — é uma denúncia silenciosa das nossas prioridades enquanto sociedade. Eles chamam-nos a reconstruir o mundo não sobre pedras imponentes, mas sobre a justiça, a partilha e a compaixão.
Jesus não promete ausência de problemas. Promete, sim, a sua presença fiel. Promete que nenhum fio de cabelo se perderá diante de Deus. Promete que o amor vivido até ao fim — mesmo em pequenas coisas — tem valor eterno.
Neste Dia Mundial dos Pobres, a Igreja renova o seu compromisso de ser “hospital de campanha”, como diz o Papa Francisco: um lugar onde quem cai encontra mãos que levantam, onde ninguém é invisível, onde a dignidade é sempre reconhecida.
Mas este compromisso não é apenas institucional; é pessoal. Cada um de nós é chamado a olhar para os pobres não como destinatários da nossa generosidade, mas como irmãos, como rosto de Cristo. Porque, como Jesus nos ensina noutro lugar, “tudo o que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”.
Quando tudo parece tremer — na Igreja, no mundo, na nossa própria vida —, Deus constrói em silêncio um templo invisível: o templo dos corações pobres, humildes e perseverantes. É essa “obra” que não cairá jamais.
Peçamos ao Senhor que, neste dia dedicado aos pobres, Ele nos converta o olhar, nos dê a graça da compaixão, e nos ensine a perseverar no amor que salva. Assim a nossa vida deixará de depender de pedras exteriores e será construída sobre a rocha firme que é Cristo.
Ámen.