«Hão-de olhar para Aquele que trespassaram»

Cinco Chagas do Senhor – Festa

Evangelho segundo São João 19,28-37 (07-02-23)

Naquele tempo, sabendo que tudo estava consumado e para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: «Tenho sede». Estava ali um vaso cheio de vinagre. Prenderam a uma vara uma esponja embebida em vinagre e levaram-Lha à boca. Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou: «Tudo está consumado». E, inclinando a cabeça, expirou. Por ser a Preparação da Páscoa, e para que os corpos não ficassem na cruz durante o sábado – era um grande dia, aquele sábado –, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados vieram e quebraram as pernas ao primeiro, depois ao outro que tinha sido crucificado com Ele. Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu é que dá testemunho e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. Assim aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: «Nenhum osso Lhe será quebrado». Diz ainda outra passagem da Escritura: «Hão de olhar para Aquele que trespassaram»

Meditação da Palavra

Caros irmãos e irmãs em Jesus Cristo,

As chagas de Jesus são um escândalo, uma pedra de tropeço para a fé, mas são também a prova da fé. É por isso que, no corpo de Cristo ressuscitado, as chagas nunca passam: elas permanecem, pois são o sinal duradouro do amor de Deus por nós. São essenciais para acreditar em Deus. Não para acreditar que Deus existe, mas para acreditar que Deus é amor, misericórdia e fidelidade.

Quando celebramos hoje a festa das sagradas chagas de Jesus, Ele convida-nos a contemplar essas chagas, a tocá-las como Tomé, a curar a nossa falta de fé. Acima de tudo, convida-nos a entrar no mistério destas chagas, que é o mistério do seu amor misericordioso.

Através destas chagas, como numa abertura de luz, podemos ver todo o mistério de Cristo e de Deus: a sua paixão, a sua vida terrena, cheia de compaixão pelos fracos e pelos doentes, a sua encarnação no seio de Maria. E podemos reconstituir toda a história da salvação: as profecias – sobretudo sobre o Servo do Senhor -, os Salmos, a Lei e a Aliança; a libertação do Egipto, a primeira Páscoa e o sangue dos cordeiros imolados; e ainda, desde os patriarcas até Abraão, e depois até Abel, cujo sangue clamou da terra. Tudo isto podemos ver nas chagas de Jesus, crucificado e ressuscitado; com Maria, no seu Magnificat, podemos perceber que “a sua misericórdia se estende de geração em geração” (Lc 1,50).

Perante os acontecimentos trágicos da história da humanidade, podemos sentir-nos por vezes esmagados, perguntando-nos: “Porquê?” O mal da humanidade pode aparecer no mundo como um abismo, um grande vazio: vazio de amor, vazio de bondade, vazio de vida. E então perguntamo-nos: como podemos preencher este abismo? Para nós é impossível; só Deus pode preencher este vazio que o mal traz ao nosso coração e à história da humanidade. É Jesus, Deus feito homem, que morreu na cruz e que preenche o abismo do pecado com a profundidade da sua misericórdia.

Enquanto estamos nesta vida, o amor-perfeito está ligado ao lado doloroso do sacrifício que nos causa temor e tremor, como aconteceu com Cristo. Mas as chagas gloriosas de Cristo ressuscitado proclamam a vitória eterna da caridade divina, que é o princípio da felicidade eterna. Pela graça e pela caridade, não só veremos e gozaremos de Deus, mas tornar-nos-emos divinizados. Se somos divinizados, participamos da natureza divina, e se participamos da natureza divina, participamos também das próprias procissões das Pessoas Divinas.

O amor de Cristo pela Cruz é o caminho seguro para esta participação, para a participação na sua filiação, na sua oblação eterna ao Pai, de onde brota o Espírito de amor. O sinal do triunfo deste amor são as chagas gloriosas de Cristo. Ámen.

O amor de Cristo pela Cruz é o caminho seguro para esta participação, para a participação na sua filiação, na sua oblação eterna ao Pai, de onde brota o Espírito de amor. O sinal do triunfo deste amor são as chagas gloriosas de Cristo. Ámen.

P. Tomás Muzhuthett