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Não faças do teu coração casa de comércio

Domingo III da Quaresma

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 2, 13-25)


«Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Isabel da Trindade…

«Alma que quer servir a Deus noite e dia no seu templo, entendo nesse santuário interior, de que fala São Paulo, quando diz: «O templo de Deus é santo e vós sois esse templo», essa alma deve estar resolvida a comungar efetivamente na paixão do seu Mestre. É uma redimida, que deve resgatar outras almas por seu turno e, para isso, há de cantar na sua lira: «Glorifico-me na Cruz de Jesus Cristo. Com Jesus Cristo estou pregada à Cruz…». (Último Retiro, 13).

Meditação…

«…não façais da casa de meu Pai casa de comércio», seguindo estas palavras de Jesus podemos perguntar: que casa do Pai é esta? No Areópago São Paulo tinha dito que Deus não habita em santuários construídos pela mão do homem (cf. Act 17, 24) e o profeta também dizia algo semelhante: «que casa me haveis de construir, diz o Senhor, e qual será o lugar do meu repouso?» (Act 7, 48-49). Não podemos negar que os templos/Igrejas são lugares próprios para orar e louvar a Deus. Mas, Deus nunca precisou de templos para se mostrar, Ele se manifesta onde quer e como quer. Jesus ensina-nos que o verdadeiro templo de Deus é o nosso corpo é a nossa vida. Se olharmos para este templo encontramos, por vezes, um grande comércio. Não podemos fazer da nossa vida um mercado, nem a fé pode ser utilizada como instrumento mercantil. Por vezes pensamos que indo à Igreja, cumprindo esse gesto, acendendo aquela vela, dizendo aquela oração, fazendo aquela oferta, estamos bem, já fizemos o nosso dever, já demos e, agora, podemos esperar alguma coisa em troca. Desse modo nos transformamos em cambistas e Jesus derruba a nossa banca. O nosso Deus quer derrubar tudo aquilo que não leva a uma relação séria com Ele. Procuremos neste tempo de Quaresma arrumar, limpar as nossas bancas de toda a espécie de mercado mundano. Não precisamos de vender nada, pois já fomos comprados por um grande preço. Não precisamos de comprar nada, pois tudo o que Deus tem é gratuito. Não nos deixemos levar pelos barulhos dos mercantis, olhemos sim para o nosso interior e dêmos valor à vida.

Frei David, Ocd

Imagem retirada de: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-03/reflexao-para-o-3-domingo-da-quaresma.html

Do caminho doloroso à gloria celeste

DOMINGO II DA QUARESMA

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos


Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias». Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». De repente, olhando em redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus, sozinho com eles. Ao descerem do monte, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos. Eles guardaram a recomendação, mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos.

COM OS SANTOS DO CARMELO

Refere Santa Isabel da Trindade…

«Pergunta-me, talvez, como o glorificar? É muito simples. Nosso Senhor dá-nos o segredo, quando nos diz: «O meu alimento é o de fazer a vontade d’Aquele que me enviou.» Ligue-se, pois, querida Senhora, às vontades deste Mestre adorável, encare cada sofrimento, assim como cada alegria, como provindo diretamente d’Ele e, então, a sua vida será como uma contínua comunhão, porque cada coisa se constituirá como um sacramento que lhe há de dar Deus».

Meditação…

Um escalador quando pensa subir uma montanha, prepara-se devidamente com o equipamento necessário, para que tudo corra da melhor maneira possível. Ao começar a escalada, depara-se com desafios e obstáculos e procura o melhor trajeto para não tropeçar nas armadilhas. Na medida que vai subindo, as pernas se vão tornando mais pesadas e o cansaço começa a acumular. Mas, ao recordar o seu objetivo lhe dá renovadas forças, revigora-se a esperança ao saber que o cume é possível alcançar. Quando chega ao cume, todo o seu cansaço é esquecido por um momento, porque desfruta da sua vitória e rejubila com aquilo que encontra. No cume podemos ter as melhores vistas, o sol radiante, a proximidade das nuvens. O monte é por si só o lugar onde pousa o primeiro raio de sol e onde se detém longamente o último.

Se olharmos para a nossa vida podemos dizer que é semelhante a um escalador. O caminho para o cume da santidade é desafiante e cheio de obstáculos. Para alcançarmos esse cume necessitamos de nos revestir com o equipamento necessário das virtudes e da Palavra de Deus, para que no caminho possamos superar toda a espécie de dificuldades que encontramos. Por mais que o caminho seja doloroso, e dependentemente da montanha que cada um suba, no cume de todas elas está reservado a maior beleza que o homem pode encontrar: a luz resplandecente e luminosa do amor de Deus. Aquela luz que brilha no coração do homem e que o deixa completamente inebriado. Sendo assim, podemos dizer, que bom é estar com este bom Deus. Aquele a quem o Pai diz: «Este é o meu Filho muito amado, escutai-O». Quando alcançarmos o objetivo, a meta que Deus nos propõe, todas as dores e dificuldades que tivemos desaparecem e são esquecidas, o cansaço transforma-se em vitalidade, a tristeza em alegria, a dor em felicidade, a morte em ressurreição.

Fr. David, Ocd

No deserto da vida Deus está…

DOMINGO I DA QUARESMA

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 12-15)

Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Isabel da Trindade

«É aí, no mais profundo, que se operará o choque divino, que o abismo do nosso nada, da nossa miséria, se encontrará frente a frente com o Abismo da misericórdia, da imensidade do tudo de Deus. É aí que havemos de encontrar a força de morrermos para nós mesmos e que, ao perder o nosso próprio rasto, seremos transformados em amor…» (O Céu na Terra. Primeiro dia, 4)

Meditação…

A Quaresma é um tempo de maior encontro com Deus. Neste primeiro Domingo somos convidados a entrar mais adentro de nós mesmos. O deserto é um lugar de encontro mais profundo com Deus, mas, também, serve para quebrar com muitas correntes diabólicas. Foi no deserto que o povo hebreu venceu as perseguições do faraó e foi no deserto alimentado por Deus. Da mesma maneira Jesus, o novo Moisés, foi tentado e perseguido pelo inimigo, ao vencê-lo foi alimentado. O deserto é um lugar não desejado por muitos, mas muitos vivem em autênticos desertos, secos como terra árida sem qualquer gota de sentido da vida. O caminho da vida por vezes é árido e cheio de inimigos, mas é nas situações mais difíceis da vida que Deus se encontra e desafia-nos sempre a colocar os olhos n´Ele. Isto parece fácil, mas é aí que entra o Espírito Santo de Deus que nos impele a sair de nós mesmos e a irmos ao encontro de quem nos sacia a fome de infinito e nos alimenta com o maná no deserto das nossas vidas. Procuremos entender que é dentro de nós mesmos que habita Deus, é aí onde se realiza o encontro divino. Quem vive sem esta realidade cristã, vive no vazio e se vive no vazio vive num sem sentido, o nada não é a última coisa que se encontra no fim da vida, mas o abismo da misericórdia de Deus que no fundo da alma clama «estou aqui».

Fr. David, Ocd


Imagem:

Pintura flamenga

A tentação de Cristo · Joos or Josse de Momper
Private Collection / bridgemanimages.com

«O amor de Deus é a saúde da alma.»

DOMINGO VI DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 40-45)


Naquele tempo, veio ter com Jesus um leproso. Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo. Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho». Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade. Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte.

Com os Santos do Carmelo…

Refere São João da Cruz…

«A razão é a seguinte: O amor de Deus é a saúde da alma. Quando não tem um perfeito amor, também não tem uma saúde perfeita; por isso, está doente. A doença não é outra coisa senão a falta de saúde; assim, quando não tem nenhum grau de amor, está morta. No entanto quando tem algum grau de amor de Deus, por mínimo que seja, já está viva, embora muito debilitada e doente por ser pouco o amor. Mas, à medida que o amor for aumentando, mais saúde terá; e quando chegar ao perfeito amor, perfeita será a sua saúde.» (CB 11, 11).

Meditação…

As atitudes que se aprendem com este Evangelho é o de aproximar-se de Jesus com confiança e com um coração humilde pedir-lhe o que mais necessitamos. Jesus veio para nos libertar de tudo aquilo que nos prende e que não nos deixa viver. Com Ele ninguém fica excluído, todos são chamados, todos tem o direito a receber o seu amor. Quando Deus toca, algo se transforma na nossa vida. Os ossos ressequidos se erguem do túmulo, a carne restabelece as suas formas originais, tudo se rejuvenesce com a palavra compadecida «Quero, fica limpo». Como é a nossa relação com este Deus que só deseja o nosso bem? Como é o nosso olhar para com o nosso semelhante? Jesus ensina-nos a olhar com compaixão a muitos que no mundo são marginalizados. Procuremos nesta Quaresma que se aproxima ter um coração misericordioso, confiante e humilde, não só para pedir por nós, mas por aqueles que ninguém se lembra, que ninguém reza, que ninguém olha.

Frei David, Ocd

«Jesus não se cansa de ensinar, curar e libertar»

DOMINGO V DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 29-39)


Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios.

Com os santos do Carmelo…

Refere São João da Cruz…

Buscando meus amores
Irei por esses montes e ribeiras,
Não colherei as flores,
Nem temerei as feras,
E passarei os fortes e as fronteiras.

A alma constata que, para encontrar o Amado, não bastam gemidos e orações, nem valer-se de bons medianeiros, como fez na primeira e na segunda canções. E, como o desejo com que O procura é verdadeiro e grande o seu amor, não quer deixar de realizar qualquer diligência que lhe seja possível, pois a alma que ama verdadeiramente a Deus não descansa sem fazer tudo quanto pode para encontrar o Filho de Deus, seu Amado. (Cb 3, 1)

Meditação

Caros irmãos e irmãs em Jesus Cristo,

Hoje a Santa Madre Igreja convida-nos a louvar Cristo, que continua a fazer o bem. Ele e os seus apóstolos cumpriram a sua missão como uma responsabilidade e não como um fardo ou apenas por um salário. Por isso, ele liberta-nos e chama-nos a servir os outros gratuitamente.

No Evangelho de hoje, Jesus não se cansa de ensinar, curar e libertar do poder das trevas as pessoas que dele se aproximam. Isto inclui a sogra de Pedro. Além disso, Jesus encarava o seu ministério como uma responsabilidade, e não principalmente como um ganha-pão. Por isso, acima de tudo, era apaixonado pelo povo e preocupava-se pelo seu bem-estar.

Tal como Jesus e Paulo, devemos encarar o nosso chamamento e a nossa missão como uma responsabilidade, e não como um fardo ou uma recompensa mundana monetária. Salário ou recompensa não se refere apenas a dinheiro ou coisas materiais. Procurar deliberadamente elogios para o nosso trabalho e missão é também uma forma de exigir salário. Se o fizermos, já recebemos o nosso salário. Assim, quando atraímos para nós uma atenção indevida pelo trabalho que fazemos, é também uma forma de receber um salário por aquilo que deveria ser apenas da nossa responsabilidade.

Paulo estava “espiritualmente doente” até ter encontrado Cristo de forma providencial. Este encontro transformou a sua vida e fortaleceu a sua fé. Por isso, dedica-se à pregação da Boa Nova. Este é o seu testemunho: “Por causa do evangelho, fiz-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo e ter parte na sua bênção.” Assim, mais do que um salário, Paulo encara o seu chamamento como uma responsabilidade pela salvação dos outros. Era um pregador itinerante a tempo inteiro, sempre sedento da conversão de almas para Cristo.

Jesus pregava, curava e libertava as pessoas de todo o tipo de enfermidades e problemas. Ninguém o encontrava com fé sem ser curado. Se Jesus tem de nos curar, também nós temos de ter fé nele. Além disso, se a boa nova nos liberta, temos de acreditar nela.

O poder de Jesus continua a ser o mesmo hoje. Ele está pronto para curar aqueles que vêm a ele com fé. Está pronto a ter um encontro que muda a vida daqueles que estão dispostos a aproximar-se dele com humildade. Por isso, “louvemos o Senhor que cura os nossos corações despedaçados”.

A Escritura de hoje desafia-nos a escutar e a partilhar. Devemos seguir Jesus não só nos momentos felizes, mas também nos momentos de solidão e até de maior tribulação. Como ele, procuremos formas de chegar com amor às pessoas que estão preocupadas, doentes ou deprimidas – para deixar que o Senhor nos use para abençoar essas situações de alguma forma. Então, quando ele nos chamar para si, ter-nos-á deixado ser os seus olhos, o seu sorriso, os seus ouvidos e as suas mãos, trabalhando silenciosamente no mundo. 

Concluo com as palavras do Papa Francisco, somos chamados “a imitar o estilo de proximidade, compaixão e ternura de Deus…, a estar perto dos que sofrem e a fazer o que for possível para os aliviar, ou pelo menos para os fazer saber que não estão sós”.          Amém.

P. Tomás Muzhuthett, Ocd

Imagem retirada de: https://oratoriosaoluiz.com.br/evangelho-do-dia-a-cura-da-sogra-de-simao-mc-129-39l/

«Ensinava-os como quem tem autoridade»

DOMINGO IV DO TEMPO COMUM


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 21-28)


Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a gritar: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem». O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele. Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!». E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

Com os santos do Carmelo…

Refere Santa Teresa…

«Oh, meu Senhor, como mostrais que sois poderoso! Não é preciso buscar razões para o que quereis, porque, sem que a razão natural entenda, Vós tornais as coisas tão possíveis que mostrais bem que não é preciso mais nada senão amar-Vos verdadeiramente e deixar tudo por Vós.» (Vida 35, 13) Bendito e louvado seja o Senhor, fonte de todos os bens que falamos, pensamos e fazemos. Amém. (Caminho de Perfeição 42, 7)

Meditação…


«Ensinava-os como quem tem autoridade». A autoridade de Jesus impera pela sua coerência de vida. É uma autoridade que faz-se compreender, «quem tem ouvidos que ouça». A autoridade de Jesus não é autoritarismo ou uma espécie de clericalismo. Toda ela tem uma pedagogia, é a pedagogia do amor. O amor é a única autoridade que pode dar frutos nos corações, é uma autoridade coerente com a vida e com aquilo que acredita, é a coerência entre palavras e atos. O amor constrói amizades, alimenta relações, destrói barreiras, dissipa dúvidas, fortalece laços, origina vida e liberta acorrentados, «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno?». Esta pedagogia leva Cristo a entrar nos nossos problemas de fundo: «o homem possesso, o homem que não sabe, que não quer, que não consegue ser livre». A obediência de Jesus Cristo levou-O à morte, morte esta paradoxal a todas as autoridades do mundo, pois, a sua verdadeira autoridade é a autoridade do amor, ou seja, só quem obedece pode agir com autoridade e só quem é «humilde, próximo e coerente é que pode conquistar autoridade e confiança juntos dos crentes» (cf. Papa Francisco). E nós, podemos ter esta autoridade? Sim podemos, «trata-se, não de dizer o Evangelho, mas de praticar o Evangelho, não tanto de proclamar uma notícia, mas de se tornar boa notícia.»

– Ermes Ronchi; Marina Marcolini. A esperança que nasce da Palavra. Paulinas: 2014, p. 115.

https://snpcultura.org/papa_elogia_humildade_proximidade_coerencia_na_igreja_e_censura_clericalismo.html

Liberta-te das tuas redes!

Domingo III do Tempo Comum ou Domingo da Palavra de Deus

Evangelho segundo São Marcos (1,14-20)

Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Caminhando junto ao mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus. Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus.

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa…

«Oh meu Senhor, se verdadeiramente Vos conhecêssemos, não faríamos caso de nada, porque muito dais a quem deveras se quer fiar de Vós! Acreditai, amigas, que é uma grande coisa entender esta verdade; assim, convencer-nos-emos de que os favores do mundo são todos uma mentira quando desviam um pouco a alma de andar dentro de si. Oh, valha-me Deus, se houvesse alguém capaz de vos fazer compreender isto! Com certeza que não serei eu, porque, apesar de me ver obrigada mais do que ninguém, não acabo de me compenetrar desta verdade como deveria.» (Caminho de perfeição 29, 3).

Meditação…

Através da proclamação da Palavra de Deus o coração que a recebe de boa vontade, mesmo no meio dos seus afazeres e coberto de redes que o impedem de avançar, pode deixar tudo e seguir pelo mar da graça e da fé. Jesus continua hoje a olhar para cada um de nós e com esse olhar ilumina o nosso coração coberto de redes que escurece e impede o nosso caminhar. O mar em que estamos envolvidos, que é o mundo, está cheio de perigos, «às vezes a sua água é amarga, às vezes salgada; às vezes é calma, às vezes turbulenta; está em constante mudança, nunca é estável; às vezes flui, às vezes reflui. Muitos grandes foram engolidos pelo seu abismo. O mergulhador nas profundezas prende a respiração, para não ser vomitado como uma haste de palha. O mar é um elemento sem lealdade. Não te fies nele; acabará por te afogar. É inquieto por causa do amor que dedica ao amigo. Às vezes faz rolar grandes vagalhões, às vezes ruge. Já que o mar não encontra o que deseja, como encontrarás nele um lugar de descanso para o coração? O oceano é um riacho que se ergue no caminho que conduz ao amigo; porquê, então, ficar aqui, contente, e nada fazer para ver o rosto de (…) [Cristo].» (Farid Ud-Din Attar, A conferência dos Pássaros, P. 35s). Segue-O e verás grandes coisas.

Frei David, Ocd

A experiência que muda a vida

DOMINGO II DO TEMPO COMUM

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 1, 35-42)

Naquele tempo, estava João Baptista com dois dos seus discípulos e, vendo Jesus que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus». Os dois discípulos ouviram-no dizer aquelas palavras e seguiram Jesus. Entretanto, Jesus voltou-Se; e, ao ver que O seguiam, disse-lhes: «Que procurais?». Eles responderam: «Rabi – que quer dizer ‘Mestre’ – onde moras?». Disse-lhes Jesus: «Vinde ver». Eles foram ver onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Era por volta das quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, foi um dos que ouviram João e seguiram Jesus. Foi procurar primeiro seu irmão Simão e disse-lhe: «Encontrámos o Messias» – que quer dizer ‘Cristo’ –; e levou-o a Jesus. Fitando os olhos nele, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas» – que quer dizer ‘Pedro’.

Palavra da salvação.

Com os santos do Carmelo

Santa Teresa diz…

«Sem o conhecimento próprio, tudo está perdido. (…) Na verdade, enquanto vivermos nesta terra, não há nada que nos importe mais do que a humildade. Assim, volto a dizer que é muito bom, sumamente bom, tratar de entrar primeiro na morada do conhecimento próprio antes de voar para as outras, porque este é o caminho. E se podemos seguir pelo que é seguro e plano, para quê querer asas para voar? Basta procurar a melhor maneira de crescer neste conhecimento próprio, pois, a meu ver, nunca chegaremos a conhecer-nos se não procurarmos conhecer a Deus. Contemplando a Sua grandeza, acudiremos à nossa pequenez; vendo a Sua pureza, veremos a nossa sujidade; considerando a Sua humildade, reconheceremos quão longe estamos de ser humildes.

Meditação…

«Que procurais?» Esta é a pergunta que Jesus nos faz hoje. Que desejamos fora, quando na verdade o que desejamos está dentro? Que cisternas rotas esquadrinhamos, quando na verdade a fonte inesgotável está dentro? Que procuramos insaciavelmente fora, quando na verdade o que sacia está dentro? O que Jesus pede hoje é que entremos em nós mesmos, que entendamos o nosso coração, que vejamos o que sucede dentro de nós. Falta-nos sempre alguma coisa, é precisamente isso que Jesus hoje quer dizer. Temos um vazio que precisa ser preenchido pelo amor de Deus. O Papa Francisco diz o seguinte: «A nossa tristeza infinita só pode ser curada pelo seu amor infinito». Só depois de reconhecermos este amor, o poderemos seguir enamorados. Enquanto assim não for, seremos adeptos e seguidores. (cf. Ermes Ronchi; Marina Marcolini. A esperança que nasce da Palavra. Paulinas: 2014).

Somos filhos amados do Pai

Batismo do Senhor – Festa

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Mc 1, 7-11

Naquele tempo, João começou a pregar, dizendo: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo». Sucedeu que, naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão. Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como uma pomba, descer sobre Ele. E dos céus ouviu-se uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência».

Palavra da salvação.

Com os santos do Carmelo

Santa Teresa dizia…

«Oh minha Esperança, meu Pai, meu Criador, meu verdadeiro Senhor e Irmão! Quando medito nas palavras em que dizeis que o vosso encanto é estar com os filhos dos homens (Pr 8, 31), a minha alma enche-se de alegria. Oh Senhor do céu e da terra, que palavras estas para que nenhum pecador possa desconfiar! Para procurardes um vermezito tão malcheiroso como eu, acaso Vos falta, Senhor, com quem Vos deleiteis? Aquela voz, que se ouviu no dia do Batismo, disse que Vos deleitáveis em Vosso Filho (cf. Lc 3, 22). Não havemos, portanto, de ser todos iguais, Senhor? Oh que imensa misericórdia, pois não somos dignas deste favor! Como é que nós, mortais, esquecemos tudo isto! Lembrai-vos, ó meu Deus, de tanta miséria e olhai para a nossa fraqueza, porque Vós tudo sabeis.» (Santa Teresa, Exclamações da alma a Deus, VII 1).

Para meditação…

«Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus a minha complacência». A comunhão trinitária que vemos neste Evangelho, revela a plena reconciliação e comunhão entre Deus e os homens. As palavras são dirigidas ao Filho, mas, também, são para nós. No nosso batismo, a voz do Pai ressoa ao nosso coração dizendo: tu és o meu filho amado! Deus compraz-se em viver no meio de nós, mesmo antes de nós o conhecermos. Ele ama-nos tal como somos. Se assim é, que imensa misericórdia! A gratuidade de Deus é manifestada no gesto de abertura dos céus à terra. Então, porquê desconfiar, porque nos preocupamos, porque nos perdemos em águas turvas da vida, quando na verdade a água que nos sacia é gratuita. A graça de Deus é manifestada aos homens e somente nos diz: Eu amo-te. Porque foges do amor imenso de Deus? Podemos mesmo dizer: O batismo em Cristo eleva a dignidade humana a alturas ilimitadas.

Frei David, Ocd

A estrela que brilha no coração do homem

Domingo da Epifania – ano B

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (2, 1-12)

Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.

Palavra da salvação.

Com os santos do Carmelo  

Edith Stein diz…

«Os Magos são diante do presépio os representantes de todos os que buscam. A graça tinha-os conduzido, embora não pertencessem ainda à Igreja visível. Vivia neles um desejo puro de alcançar a Verdade, que não se deixa conter nas fronteiras das doutrinas e tradições particulares. Deus é a Verdade e quer manifestar-se a todos aqueles que O buscam com coração sincero; por isso, tarde ou cedo, a estrela tinha que aparecer a esses “sábios”, para os conduzir pelo caminho da Verdade. Por isso, apresentam-se diante da Verdade encarnada e, prostrados perante ela, depõem as suas coroas a seus pés, pois todos os tesouros do mundo não são senão pó em comparação com ela.» (Edith Stein, A mensagem de Natal – vida escondida e Epifania).

Para meditação…

«Nós vimos a sua estrela». Que estrela é esta? Em sentido cósmico uma estrela brilha, é finita, aos nossos olhos surge de noite. Em sentido figurado, a estrela pode ser a fé, o dom que Deus nos concedeu. Esta fé tem uma duração e, também, é vivida na noite que, significa a procura de Deus. Enquanto caminhamos com esta estrela andamos de noite. Mas, esta estrela, nos guiará para o caminho seguro, nos levará ao encontro do Menino. Que expectativas temos nós em seguir este caminho? Que estrelas seguimos? O mundo tem muitas estrelas brilhando, mas todas elas se apagam rápido, são como uma estrela cadente que aparece e desaparece. A verdade é que, a verdadeira luz que nos indica o caminho é ofuscada por luzes cadentes que, nos colocam nuvens em vez de claridade. A luz é para todos os que buscam a verdade da vida. Procuremos a luz verdadeira com um coração sincero pois, quem o procura assim o encontrará, como aconteceu com os Reis Magos que o procuravam com desejos puros de alcançar a verdade. Caminhemos ao encontro do Menino e quando chegarmos à meta ofereçamos-lhe o que mais precioso temos para dar: toda a nossa vida e liberdade.

Frei David, Ocd