Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
O Evangelho que hoje escutámos apresenta-nos Jesus numa refeição em casa de um fariseu, um daqueles momentos em que Ele aproveita situações da vida quotidiana para revelar a lógica de Deus, tão diferente da lógica do mundo.
Jesus observa como os convidados procuram os primeiros lugares e conta uma parábola que nos aponta para a humildade. A seguir, dirige-Se ao anfitrião e ensina a gratuidade: não convidar apenas aqueles de quem podemos esperar recompensa, mas abrir a mesa e o coração aos pobres, aos doentes, aos que nada têm para dar em troca.
Há aqui duas lições centrais: a humildade e a gratuidade.
Primeiro, a humildade. Na cultura do tempo, como ainda acontece hoje, os lugares de honra eram sinal de prestígio e reconhecimento. Jesus não condena a alegria de ser honrado, mas denuncia a vaidade e a busca do primeiro lugar como afirmação pessoal. Aos olhos de Deus, não conta quem se coloca acima dos outros, mas aquele que se faz servo. “Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.” É o mesmo caminho de Cristo: Ele, que era Senhor, fez-Se servo até à cruz.
Segundo, a gratuidade. Jesus vai mais longe e fala ao anfitrião: não convides apenas os amigos e os ricos vizinhos, porque isso garante-te retribuição. Convida antes os pobres, os coxos, os cegos, porque não têm como pagar. Esta é a lógica de Deus: amar sem esperar nada em troca, dar sem calcular, servir sem procurar reconhecimento. É a lógica da graça, do dom gratuito.
Irmãos, o Evangelho desafia-nos hoje a rever o nosso modo de viver as relações:
– No dia-a-dia, somos muitas vezes tentados a procurar o “primeiro lugar”, seja no trabalho, na comunidade ou até na própria família. O Senhor convida-nos a descer, a escolher o lugar do serviço e da simplicidade.
– Nas nossas escolhas, quantas vezes procuramos apenas o que nos convém ou o que nos dá retorno. Jesus pede-nos um coração aberto, capaz de acolher quem não tem nada para dar senão a sua fragilidade.
A Eucaristia que celebramos é precisamente isto: um banquete oferecido a todos, sem distinções, onde Cristo é o anfitrião e nós somos convidados, não pelos nossos méritos, mas pela sua graça. Aqui, aprendemos a humildade de nos reconhecermos necessitados, e a gratuidade de partilhar o que recebemos.
Peçamos ao Senhor que nos dê um coração semelhante ao d’Ele: humilde, para não buscar os primeiros lugares; e generoso, para amar sem esperar recompensa. Assim a nossa vida será reflexo do Reino onde todos têm lugar, sobretudo os mais pequenos.
Ámen.