Alegrai-vos, Cristo ressuscitou do túmulo!

DOMINGO DA PÁSCOA NA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. João (20, 1-9)


No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo que Jesus amava e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro¬. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro:¬ viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa…

«Se estais alegres, vede-O ressuscitado, pois só com imaginar a sua saída do sepulcro vos alegrareis. Que esplendor e formosura! Que majestade! Que vitorioso e alegre! É como quem saiu triunfante da batalha onde conquistou um tão grande reino que, juntamente com Ele, quer que seja todo vosso. Será muito voltar alguma vez os olhos para Aquele que tanto vos dá?» (Caminho de Perfeição 26, 4).

Meditação

Escuta, Adão, e alegra-te com Eva, pois aquele que vos despojou a ambos e, com o seu engano, vos tornou cativos foi reduzido à impotência na cruz de Cristo. Hoje, ó Cristo, aboliste o império da morte com o teu poder e libertaste, ó dador da vida, as almas dos homens graças à tua ressurreição, Tu, nosso Salvador. Como a multidão dos anjos no Céu, assim o género humano celebra na terra a santíssima Ressurreição da tua bondade, Senhor. Hoje, Cristo ressuscitou do túmulo, do qual fez sair a incorruptibilidade para todos os mortais, e, na sua misericórdia, inaugurou com as portadoras de perfumes a alegria da ressurreição. Desperta-nos do túmulo do pecado, nós, mortos pela multidão das nossas paixões, ó Salvador, verdadeiro amigo do homem, que pela tua ressurreição destruíste a tirania da morte. Alegrai-vos, sábias perfumistas, mulheres que fostes as primeiras a ver a ressurreição de Cristo e que anunciastes aos apóstolos a ressurreição de todo o mundo. Adoro-te, Pai sem princípio que és a vida, adoro contigo o teu Filho Eterno que é a vida, vida e fonte viva é o Espírito Santo: glorifico a única e Vida verdadeira.

Livro das Horas do Sinai (século IX)

Macarismos da Ressurreição, SC 486

«Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade.»

Domingo de Ramos na Paixão do Senhor

Evangelho Segundo São Marcos (15, 1-39)
Naquele tempo, os príncipes dos sacerdotes reuniram-se em conselho, logo de manhã, com os anciãos e os escribas, isto é, todo o Sinédrio. Depois de terem manietado Jesus, foram entregá-l’O a Pilatos. Pilatos perguntou-Lhe: «Tu és o rei dos judeus?». Jesus respondeu: «É como dizes». E os príncipes dos sacerdotes faziam muitas acusações contra Ele. Pilatos interrogou-O de novo: «Não respondes nada? Vê de quantas coisas Te acusam». Mas Jesus nada respondeu, de modo que Pilatos estava admirado. Pela festa da Páscoa, Pilatos costumava soltar-lhes um preso à sua escolha. Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurretos, que numa revolta tinham cometido um assassínio. A multião, subindo, começou a pedir o que era costume conceder-lhes. Pilatos respondeu: «Quereis que vos solte o rei dos judeus?». Ele sabia que os príncipes dos sacerdotes O tinham entregado por inveja. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes incitaram a multidão a pedir que lhes soltasse antes Barrabás. Pilatos, tomando de novo a palavra, perguntou-lhes: «Então, que hei de fazer d’Aquele que chamais o rei dos judeus?». Eles gritaram de novo: «Crucifica-O!». Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?». Mas eles gritaram ainda mais: «Crucifica-O!». Então Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás e, depois de ter mandado açoitar Jesus, entregou-O para ser crucificado. Os soldados levaram-n’O para dentro do palácio, que era o pretório, e convocaram toda a corte. Revestiram-n’O com um manto de púrpura e puseram-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos que haviam tecido. Depois começaram a saudá-l’O: «Salve, rei dos judeus!». Batiam-Lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante d’Ele. Depois de O terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as suas roupas. Em seguida levaram-n’O dali para O crucificarem. Requisitaram, para Lhe levar a cruz, um homem que passava, vindo do campo, Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo. E levaram Jesus ao lugar do Gólgota, quer dizer, lugar do Calvário. Queriam dar-Lhe vinho misturado com mirra, mas Ele não o quis beber. Depois crucificaram-n’O. E repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para verem o que levaria cada um. Eram nove horas da manhã quando O crucificaram. O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito: «Rei dos Judeus». Crucificaram com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam insultavam-n’O e abanavam a cabeça, dizendo: «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz». Os príncipes dos sacerdotes e os escribas troçavam uns com os outros, dizendo: «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo! Esse Messias, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para nós vermos e acreditarmos». Até os que estavam crucificados com Ele O injuriavam. Quando chegou o meio-dia, as trevas envolveram toda a terra até às três horas da tarde. E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: «Eloí, Eloí, lemá sabactáni?», que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?». Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram: «Está a chamar por Elias». Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta duma cana, deu-Lhe a beber e disse: «Deixa ver se Elias vem tirá-l’O dali». Então Jesus, soltando um grande brado, expirou. O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo. O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou: «Na verdade, este homem era Filho de Deus».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Teresa…

No dia de Ramos, acabando de comungar, (…). O Senhor disse-me: “Filha, eu quero que o meu sangue te aproveite, e que não tenhas medo que a minha misericórdia te falte. Eu derramei-o com muitas dores e tu, como vês, gozas dele com grande deleite. Desta maneira, pago-te bem o banquete que me oferecias neste dia”. Falou assim porque, há mais de trinta anos, sempre que podia, eu comungava neste dia de Ramos e procurava preparar a minha alma para hospedar o Senhor. (Contas de Consciência 26).

Meditação…

Queres entender quem é Deus? Basta que te ajoelhes junto à cruz, dizia o grande teólogo Karl Ranher. A Cruz é sinal de redenção, sacrifício, esperança, libertação. Foi nela que o Redentor se entregou à morte por todos nós, estendendo assim o Reino de Deus a todos os povos. No percurso efetuado até chegar à cruz foi preciso derramar lágrimas e orar ao Pai para que tivesse força e não desistisse. Jesus sofreu as angústias e tristezas que o mundo nos oferece, tudo para aliviar as nossas dores e sofrimentos. Com a sua flagelação e os espinhos coloca-nos coragem para que não sejamos influenciados pela melancolia do mundo, e pelo seu desespero. Jesus ao morrer e ao entregar o seu espírito ao Pai, reanima-nos a esperança de uma vida eterna e aumenta a nossa fé na Ressurreição. Hoje Jesus continua em agonia e dor por muitos que sofrem, continua crucificado em todos os seus irmãos vítimas de guerras, de injustiças. Todos nós podemos participar na eterna paixão de Deus, se, tal como as mulheres no calvário, estivermos perto das cruzes dos nossos irmãos que mais sofrem. Abracemos os nossos irmãos e digamos a todos os que se sentem em tristeza que se lembrem da agonia de Jesus, por todos os que sofrem o sarcasmo de outros homens se lembrem da tortura de Jesus, os que perderam a vontade de viver, que se lembrem do brado de Jesus, por todos os que perderam a esperança que se lembrem da ressurreição de Jesus.

Frei David, Ocd

«Quem procura a verdade procura Deus»

DOMINGO V DA QUARESMA

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 12, 20-33)


Naquele tempo, alguns gregos que tinham vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa, foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome». Veio então do Céu uma voz que dizia: «Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-l’O». A multidão que estava presente e ouvira dizia ter sido um trovão. Outros afirmavam: «Foi um Anjo que Lhe falou». Disse Jesus: «Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir; foi por vossa causa. Chegou a hora em que este mundo vai ser julgado. Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo. E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim». Falava deste modo, para indicar de que morte ia morrer.

Com os santos do Carmelo

Refere Edith Stein…

“Querida Mãe, permita-me, Vossa Reverência, que me ofereça ao Coração de Jesus como vítima propiciatória pela verdadeira paz: que o poder do anticristo, se possível, caia sem uma nova guerra mundial, e que se estabeleça uma nova ordem de coisas. Gostaria de o fazer ainda hoje, agora que são 12 horas. Sei que não sou nada, mas Jesus quer isso, e certamente nestes dias chamará muitos outros para isso”. (Carta à Madre Ottilia Thannisch OCD, Etch, Domingo da Paixão, 26 de março de 1939).

Meditação

«Senhor, nós queríamos ver Jesus.» Alguns gregos são símbolo da nossa procura de Jesus. Que procuramos nós nas nossas vidas?  Edith Stein dizia que aquele que procura a verdade procura a Deus mesmo sem o saber. Contudo, esta procura de verdade pode ser acompanha de curiosidade, o que poderá levar a desilusões. A verdade que nos referimos é uma Verdade que se aplica a todos, é universal, é uma verdade que é capaz de unir. Uma verdade que nos liberta, não é uma verdade que cada um pode construir como Nietzsche dizia, mas a Verdade de uma pessoa, que se entregou e deu a sua vida por todos: Jesus Cristo. Quando procuramos a verdade devemos estar abertos aos desafios e exigências colocadas por essa procura, porque a Verdade só se manifestará quando de facto estamos com o coração humilde e verdadeiro. Mesmo que sejamos impulsionados pelo Espírito Santo e caminhemos com desejo de ver o rosto de Jesus, não significa que o que vamos ouvir e ver seja agradável. Todavia, Jesus é claro, vou morrer numa cruz e depois podereis olhar para mim, através da minha morte atrairei a muitos, ou seja, dará muitos frutos. Quem O quiser seguir esqueça-se de si mesmo e deixe tudo o que lhe prende. Jesus desafia-nos: se Me queres ver olha para a cruz e aí verás a vitória, aí tereis a vida, aí podereis ser glorificados. Jesus chama e atrai muitos, mas nem todos querem seguir as suas exigências. Esta é a verdade do cristianismo: a Cruz é o símbolo da salvação para todos. O que Jesus pede é que olhemos para ele. Olhando para ele, sem palavras, confessamos que ele é o centro e o sentido da nossa vida, o impulso das nossas obras, a meta do nosso caminho, a nossa vida!

Fr. David, Ocd

«Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho.»

Domingo IV da Quaresma (Laetare)

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo aquele que pratica más acções odeia a luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus.

Com os santos do Carmelo

Refere São João da Cruz…

«Nesta união interior, Deus comunica-Se à alma com tanta vontade de amor, que não há afeto de mãe que acaricie o seu filho com tanta ternura, nem amor de irmão, nem amizade de amigo, que se lhe compare. […]. Como é grande a humildade e a doçura de Deus! […]. Ele aqui ocupa-se em consolar e acariciar a alma como a mãe cuida e consola o seu filhinho…» (Cântico Espiritual 27, 1)

Meditação

«Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho.» Isto é algo que é central no Evangelho de São João, é a frase que nos enche as medidas que nos assombra. Entre Deus e nós há uma só linha que nos une: o amor. É o caminho em que o céu entra em nós e nós no céu, é a ponte sobre o qual se encontram e se abraçam o finito e infinito. Ao dizer esta frase o nosso Deus quer dizer que somos muito importantes que temos um grande valor. Ao entregar o Seu Filho fez com que Ele habitasse no meio de nós e que ficasse connosco até aos fins dos tempos. Se Ele está connosco, então é bom recordar todos os dias que Ele nos acompanha nas nossas dificuldades e quando estamos desanimados. Deus está sempre connosco, porque nos ama. Jacques Maritain dizia que «precisamos de muito amor para viver bem». Portanto, não basta saber que Deus nos ama, é preciso também distribuir esse amor pelos irmãos. Porque o amor pode transformar muitas pessoas e ajudá-las a viver bem. Procuremos nesta Quaresma ter atos de amor por aqueles com quem nos cruzamos, aqueles que Deus nos coloca à frente para provar o nosso amor. Não desprezemos, não façamos medidas, não julguemos pelas aparências, não nos achemos superiores a ninguém, procuremos entender aquele que se aproxima e façamos atos de amor, com paciência, tolerância, ternura, misericórdia.

Frei David, Ocd

Imagem: creditos-AlessandroPhoto by Getty Images

Não faças do teu coração casa de comércio

Domingo III da Quaresma

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 2, 13-25)


«Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem».

Com os santos do Carmelo

Refere Santa Isabel da Trindade…

«Alma que quer servir a Deus noite e dia no seu templo, entendo nesse santuário interior, de que fala São Paulo, quando diz: «O templo de Deus é santo e vós sois esse templo», essa alma deve estar resolvida a comungar efetivamente na paixão do seu Mestre. É uma redimida, que deve resgatar outras almas por seu turno e, para isso, há de cantar na sua lira: «Glorifico-me na Cruz de Jesus Cristo. Com Jesus Cristo estou pregada à Cruz…». (Último Retiro, 13).

Meditação…

«…não façais da casa de meu Pai casa de comércio», seguindo estas palavras de Jesus podemos perguntar: que casa do Pai é esta? No Areópago São Paulo tinha dito que Deus não habita em santuários construídos pela mão do homem (cf. Act 17, 24) e o profeta também dizia algo semelhante: «que casa me haveis de construir, diz o Senhor, e qual será o lugar do meu repouso?» (Act 7, 48-49). Não podemos negar que os templos/Igrejas são lugares próprios para orar e louvar a Deus. Mas, Deus nunca precisou de templos para se mostrar, Ele se manifesta onde quer e como quer. Jesus ensina-nos que o verdadeiro templo de Deus é o nosso corpo é a nossa vida. Se olharmos para este templo encontramos, por vezes, um grande comércio. Não podemos fazer da nossa vida um mercado, nem a fé pode ser utilizada como instrumento mercantil. Por vezes pensamos que indo à Igreja, cumprindo esse gesto, acendendo aquela vela, dizendo aquela oração, fazendo aquela oferta, estamos bem, já fizemos o nosso dever, já demos e, agora, podemos esperar alguma coisa em troca. Desse modo nos transformamos em cambistas e Jesus derruba a nossa banca. O nosso Deus quer derrubar tudo aquilo que não leva a uma relação séria com Ele. Procuremos neste tempo de Quaresma arrumar, limpar as nossas bancas de toda a espécie de mercado mundano. Não precisamos de vender nada, pois já fomos comprados por um grande preço. Não precisamos de comprar nada, pois tudo o que Deus tem é gratuito. Não nos deixemos levar pelos barulhos dos mercantis, olhemos sim para o nosso interior e dêmos valor à vida.

Frei David, Ocd

Imagem retirada de: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-03/reflexao-para-o-3-domingo-da-quaresma.html