Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
O Evangelho de hoje apresenta-nos uma parábola bem conhecida, mas sempre nova na sua profundidade: o fariseu e o publicano que sobem ao Templo para rezar. Jesus dirige esta parábola “a alguns que confiavam em si mesmos, por se julgarem justos, e desprezavam os outros”.
Aqui, o Senhor convida-nos a olhar para dentro de nós, para o modo como nos apresentamos diante de Deus e dos outros.
O fariseu, homem religioso, cumpridor da Lei, sobe ao Templo e começa a rezar — ou melhor, começa a falar de si próprio. A sua oração é uma espécie de lista de méritos: “Jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo…” E, ao mesmo tempo, aponta o dedo aos outros: “não sou como esse publicano”. É uma oração cheia de orgulho e de comparação, onde Deus quase desaparece.
Já o publicano, homem considerado pecador público, permanece ao fundo, não se atreve a levantar os olhos ao Céu. Bate no peito e diz: “Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador.” Esta é uma oração curta, humilde e verdadeira. Ele reconhece a própria miséria, mas confia na misericórdia divina.
Jesus conclui: “Eu vos digo, este desceu justificado para sua casa, e não o outro.”
O fariseu foi ao Templo e saiu igual. O publicano foi ao Templo e saiu transformado.
A questão central é esta: como é que rezamos?
Rezamos para nos justificar diante de Deus, ou para nos deixarmos justificar por Ele?
Rezamos para provar que somos melhores, ou para reconhecer que tudo o que somos vem da Sua graça?
Na oração do fariseu há orgulho, e o orgulho fecha o coração.
Na oração do publicano há humildade, e a humildade abre o coração à graça.
A fé cristã não é um concurso de virtudes, mas uma história de amor e misericórdia.
Deus não nos pede perfeição sem falhas, pede-nos um coração sincero, arrependido e confiante.
É por isso que Jesus nos diz: “Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.”
Irmãos e irmãs, este Evangelho é um espelho.
Quantas vezes também nós rezamos como o fariseu, comparando-nos, julgando, sentindo-nos seguros nas nossas boas obras…
E quantas vezes precisamos de voltar ao essencial, como o publicano, reconhecendo simplesmente: “Senhor, tem piedade de mim.”
Hoje, o Senhor chama-nos à verdadeira oração, que nasce da verdade sobre nós mesmos.
Quando reconhecemos as nossas fraquezas, não para nos condenarmos, mas para nos abrirmos à Sua misericórdia, então a graça de Deus pode agir.
Que saibamos aproximar-nos do altar não para nos gloriarmos, mas para nos deixarmos salvar.
E que a nossa oração, como a do publicano, toque o coração de Deus, que é sempre maior do que o nosso pecado.
Ámen.