P. José Arun
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Neste Evangelho segundo São Lucas, capítulo 10, versículos 1 a 12, somos convidados a contemplar um momento essencial da missão de Jesus: o envio dos setenta e dois discípulos. Não se trata apenas de um episódio histórico, mas de um apelo atual e permanente da Igreja, dirigido a cada um de nós.
“O Senhor designou outros setenta e dois e enviou-os dois a dois à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir.” (Lc 10,1)
Logo aqui percebemos que a missão não é iniciativa dos discípulos, mas de Jesus. Ele é quem chama, quem envia e quem conduz. A missão é sempre de Deus — nós somos colaboradores. Ao enviá-los dois a dois, Jesus sublinha o valor da comunhão e do testemunho partilhado: não somos enviados sozinhos, mas como Igreja, como comunidade.
Jesus adverte os discípulos:
“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe.” (Lc 10,2)
Este versículo continua a ser verdadeiro hoje. A messe — ou seja, o mundo sedento de Deus, de sentido, de amor — é vasta. Mas muitas vezes faltam anunciadores corajosos, fiéis, disponíveis. Por isso, antes de ir, Jesus manda rezar. A missão nasce da oração, não do ativismo. É na oração que discernimos a vontade de Deus e ganhamos força para cumprir o que Ele nos pede.
Jesus não esconde a dificuldade:
“Vou enviar-vos como cordeiros para o meio de lobos.” (Lc 10,3)
Evangelizar não será fácil. Haverá rejeição, resistência, talvez até perseguição. Mas é precisamente no meio das dificuldades que o discípulo brilha com a luz do Evangelho. Ser cordeiro entre lobos não é sinal de fraqueza, mas de confiança no Pastor que nos envia.
Depois vêm instruções muito concretas: não levar bolsa, nem alforge, nem sandálias, não se deter em saudações demoradas… tudo isto indica urgência, desprendimento, confiança na providência. O missionário deve ser leve, livre de amarras, pobre de bens, mas rico de fé e de amor.
A missão é anunciar a paz:
“Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa’.” (Lc 10,5)
A missão da Igreja não é impor, mas propor a paz de Deus, construir pontes, curar feridas. O Evangelho é boa notícia para todos, e começa por oferecer aquilo que o mundo mais deseja: paz verdadeira, que vem de Cristo.
Finalmente, Jesus avisa:
“Se não vos receberem, saí para as ruas… e dizei: ‘Até o pó da vossa cidade… sacudimos contra vós’.” (Lc 10,10-11)
Mesmo quando a mensagem não é acolhida, o discípulo não se revolta, não impõe. Apenas sacode o pó e segue caminho. Isto ensina-nos a liberdade interior do evangelizador: faz o que lhe compete com amor e verdade, mas sem se apegar aos resultados.
Queridos irmãos, esta leitura é um forte apelo a cada um de nós. Todos, pelo batismo, somos discípulos-missionários. Não precisamos ir longe: a missão começa na nossa casa, no trabalho, entre vizinhos e amigos. Onde quer que estejamos, somos chamados a levar paz, alegria, esperança e o testemunho vivo de Cristo.
Peçamos ao Senhor que nos envie, que nos fortaleça, e que faça de nós trabalhadores fiéis da sua messe. Que sejamos mensageiros da paz e da Boa Nova, com coragem, humildade e alegria.
Ámen.