Caríssimos irmãos e irmãs,
O Evangelho de hoje apresenta-nos Jesus a caminho de Jerusalém, onde se cumprirá a sua Páscoa. No meio da caminhada, alguém pergunta: “Senhor, são poucos os que se salvam?” É uma pergunta antiga, mas ainda muito atual: quantos se salvam? Será difícil entrar no Céu?
A resposta de Jesus não é uma estatística, não é um número. Ele não responde “muitos” ou “poucos”. Ele responde com um convite exigente: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita.” Ou seja, o que importa não é a curiosidade sobre quantos, mas a seriedade com que cada um vive a sua relação com Deus.
A porta estreita é Cristo. É estreita não porque Deus queira excluir, mas porque exige verdade, humildade e conversão. Não é larga como o caminho da indiferença ou do comodismo; é estreita porque só se entra sem fardos: sem orgulho, sem egoísmo, sem a falsa segurança de achar que basta dizer “Senhor, Senhor”.
Jesus adverte-nos: “Virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa no Reino de Deus.” Isto lembra-nos que a salvação é dom oferecido a todos os povos, e que nós, que nos consideramos “de casa”, não temos lugar garantido. A familiaridade exterior com a fé – conhecer ritos, palavras, tradições – não substitui a conversão do coração e a prática da justiça e da caridade.
“Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.” Estas palavras de Jesus são um alerta e, ao mesmo tempo, uma esperança. Alerta, porque nos desafia a não nos contentarmos com aparências religiosas, mas a viver uma fé autêntica, que se traduz no amor concreto. Esperança, porque ninguém está excluído: até aquele que se sente “último”, esquecido ou afastado, pode ser acolhido e transformado pela graça de Deus.
Caríssimos irmãos, hoje o Senhor diz-nos: não perguntem “quantos”, perguntem “como estou eu a viver a minha fé?”. A salvação é para todos, mas exige de cada um de nós empenho, luta interior, esforço diário por escolher a verdade, a justiça, a caridade.
Peçamos ao Senhor que nos dê coragem para caminhar pela porta estreita – que é Ele próprio – com o coração humilde, mãos limpas e vida entregue ao amor. Assim, um dia, também nós nos sentaremos à mesa do Reino, junto de todos os irmãos e irmãs que deixaram que a graça de Deus os transformasse.
Ámen.
Pe. José Arun OCD